Leituras e desconexões

Não sei ler exames. Leio palavras e me inquieto na sua intimidade. O mundo exige diversidades. Não se pode cair numa única interpretação, mas também não há como codificar o absoluto. O examinador quer, muitas vezes, a proximidade com a certeza. Sente-se um salvador. Fugir das dúvidas desafia. Para mim, é impossível. Sei que nem tudo me pertence. O risco bate na porta e as chaves estão na gaveta. É preciso ter cuidado e não disfarçar que o medo não se ausenta da história da cada um . Não há máquinas para ler sentimentos, porém as máscaras acompanham as travessias. Ninguém limpou a face de todas as suas sujeiras

Não adianta esquecer a incompletude. Nada está acabado. O ponto final faz acrobacias e as dores lembram as angústias inseparáveis do humano. O examinador se perde quando se completa nas tiranias do resultado indiscutível. Parece que tem um computador particular dentro do seu planejamento e expulsa as divindades das suas contas e dos seu devaneios. Busca sair das aventuras. Há o toque da ciência, da objetividade, das tantas fórmulas que invadem os laboratórios e as iluminações acadêmicas.

Os cartesianos, então, deliram. Nunca leram Descartes, no entanto recebem sua mensagem indiretamente. O saber tornou-se uma mercadoria, faz tempo. Há quem o use para se vestir de arrogâncias e humilhar os considerados ingênuos. As faltas circulam e existem sacerdotes e sábios que não se encantam com o tilintar das moedas e fantasiam. Sentem o cheiro do corpo, o peso da espera e olham os horizontes. Nada é homogêneo, a intuição não morreu e as conversas trazem o novo e não se largam das nostalgias.Leio e escrevo, como um arquiteto que desenha sem matematizar. A forma é importante, a beleza fundamental, o tempo umna extravagância.

Desconfiar das superfícies, correr pelos abismos, morar em certas amarguras. Tudo isso não significa afirmar que o labirinto não tem portas. Prometeu não ficou aprisionado nas correntes por uma eternidade. O poeta Manoel de Barros não tem vergonha de dizer que o quintal da sua casa é maior que a sua cidade. Brinca.Os espaços se multiplicam para que as palavras voem. Há sempre um espetáculo que não foi visto e uma gratuidade que consola a nudez mais cruel. O traço da solidariedade é o que garante a possibilidade do sonho e anula o pesadelo. Quem não escuta o invisível submerge na mudez da planificação árida.

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