A cidade sitiada, a cidade possuída

 

As cidades se formam seguindo os caminhos das histórias que a sociedade humana vive. Elas estreitam relações, juntam diferenças, provocam multiplicidades. Mas as cidades nunca foram, de uma maneira geral, lugares de sossego. Algumas representam descontroles e violências constantes. O aumento da população motiva mudanças e consolida também hábitos tirânicos. Muita gente exige sofisticação do controle acompanhada de tecnologias minuciosas. Não falta espionagem, nas convivências, nas suspeitas do poder público, nos desejos de assegurar privilégios, nas arquiteturas programadas por especialistas.

Nos tempos modernos, as cidades ganham espaços surpreendentes. A mistura cultural se expande, os pertencimentos tornam-se frágeis.Os estranhamentos assustam. Parece que os exílios invadem o cotidiano. Os lugares transformam-se com o ritmo das especulações e das idas e vindas dos moradores. Citamos imobilidades, porque temos apego à pressa, somos passageiros da impaciência e a quantidade se constitui modelo. Não sintetizemos. A questão é complexa. As máquinas substituem as pessoas. As facilidades mascaram confusões ou disfarces. As populações se deslocam em busca de melhores condições de vida.

A  modernidade foi cenário de revoluções. Nelas, as cidades tiveram ocupações conflituosas, lutas centralizadas, governos provisórios instalados. Muitas guerras feitas contra a colonização, muitos nacionalismos marcados por rebeldias e discursos de autonomia radical. Hoje, os tempos são outros. Falam que há um tédio no ar, substituído por divertimentos vendidos ou multidões deslumbradas pelos grandes acontecimentos. As cidades perderam o fluxo da insatisfação. caíram de vez na massificação, aceitaram as manipulações capitalistas sem desconfortos?

As questões mudam mesmo que permanências continuem,  mostrem a história aberta e não, apenas, como um desfile de novidades. O diálogo entre os tempos históricos não afastou, nem poderia anular as memória de tantas aventuras. Cada época, contudo, se veste com suas modas, com suas opressões, com seu devaneios. Na aldeia global contemporânea, o capitalismo se alargou, apesar de muitos desajustes e rearrumações nos núcleos de poder. As desigualdades estão presentes, a política se distancia da ética e se dá importância ás gestões que produzam êxitos concentrados. Valem as acumulações, as distribuições alicerçadas em justificativas lucrativas que abastecem minorias. Um olhar atento , nas cartografias do mundo, observa conflitos e desgovernos.

As cidades ganham importância nas relações de poder.  Seu território valioso é alvo de disputas constantes. A  ambição comanda malabarismos incessantes. O bem coletivo se confronta com garantias suspeitas que anunciam paraísos. As cidades não conseguem ver o azul. Respiram com dificuldades, sentem-se encurraladas. Seud moradores se perturbam e , ao mesmo, se fascinam. Protestam, mas curtem as vitrines com uma paixão incomensurável. O mundo é vasto e as reflexões tímidas ou individualistas. O afeto se perdeu na competição que dilui o outro e o empurra para o abismo.

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