A Copa chega com expectativas e memórias

Lembro-me dos anos 1970. Era a época dos duros governos militares. Muitas repressão e limitações políticas que incomodavam aos mais rebeldes e inquietos. Ano de Copa do Mundo, com a seleção brasileira composta de grande jogadores. A discussão era intensa. Havia quem se negasse a torcer pela seleção. Considerava que estava compactuando com os possíveis festejos de uma política que combatiam. As conversas corriam e as tensões mostravam que as dissonâncias eram consistentes.

Tinha um grupo de amigos. Resolvemos torcer. Fizemos encontros para assistir aos jogos. Não significava que admirássemos aquele nacionalismo jogado pela propaganda oficial, mas também não acreditávamos que a  derrota da seleção poderia trazer mudança na convivência política. Éramos, radicalmente, contra a opressão existente e nunca deixamos de ser. Mantivemos, no entanto, a nossa paixão pelo futebol.

A memória serve para conectar os tempos. Temos outra Copa. Há críticas justas aos gastos excessivos ou mesmo à falta de uma organização coerente. As carências são imensas. Não nego que nem deveríamos ter entrado nesse evento. É difícil  conhecer quais os desdobramentos políticos de tudo isso. Há insatisfações, muitas reivindicações circulam. Os jogos acontecerão numa atmosfera não tão favorável como esperavam seus patrocinadores. Há suspenses e os entusiasmos não se estendem como de outras vezes.

Portanto, as divisões existem e acredito que permanecerão em foco. Todos sabemos que os acontecimentos esportivos internacionais sacodem  multidões. Os investimentos são milionários e os lucros exorbitantes. Há interferências, regras, resistências junto com expectativas sobre a atuação de Neymar e as possibilidades do hexa. Se o Brasil ganhar a Copa causará reações diversos. Mas o jogo sempre é cheio de surpresas e a vida continua com suas controvérsias. Estimular profecias é cair no território da dúvida.

Vou torcer pela seleção. Gosto de futebol e vibro muito com os malabarismos. Lamento que tudo tenha sido feito de forma bastante contraditória. O governo poderia ter seguido outro caminho. Com o dinheiro gasto, resolveríamos problemas que atormentam o dia a dia. Mas os dados estão lançados. Não sou daqueles que sofrem com a derrota e constroem um recesso afetivo. O futebol é um divertimento que desloca emoções e atiça polêmicas. Na sociedade do consumo, ele se cercou dos interesses das corporações. Isso fermenta decepções, provoca desconfianças.O reino do capital  promove espetáculos, para firmar sua dominação.

O importante é não consolidar ilusões. A crítica deve ter seu espaço e nem todos estão envolvidos com as aventuras dos esportes. Há quem os despreze. A história possui linhas sinuosas. Os eventos ditos fabulosos procuram lucros, mas também fixar opiniões. Saber onde se arquitetam as armadilhas é fundamental para não achar que o futebol é salvação da pátria. Fechar os olhos para os desgovernos é esquecer a autonomia . Os exageros com o dinheiro público merecem punição. A vitória não apaga as manipulações e os descontroles.

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