A democracia cria sonhos e sinais seculares

As agitações lembram que existem desejos de mudar. Localizam-se várias maneiras de insubordinação. Há rebeldias momentâneas. Passam. Temem violências, mais agudas, e aparentam não ter causas definidas. São encontros com insatisfações,sem reflexões sobre o futuro e  carregadas de desconhecimentos sobre  as políticas do passado. Predomina o efêmero, nada se consolida, a não ser a frustração de alguns. Não custa criar abalos na ordem estabalecida. Ela desrespeita a maioria. Excesso de quietude é sinal de apatia. Tira autonomia dos sujeitos e esvazia o dialogar com as utopias.

Quando a sociedade questiona seus aurotitarismos, surgem projetos, muitos deles enraizados em euforias. A luta política é frequente, não adormece. Há grandes transformações que reformulam governos. No entanto, o cotidiano não fica distante de hábitos conservadores. O cuidado deve ser amplo. Conservar, nem sempre, traz desmantelos ou desequilíbrios. A sociedade não se constrói sem referências, sem misturar seus tempos. Manter censuras, guardar costumes opressores, reativar discurso de exploração, tudo isso ameaça o esforço de negar as ordens castradoras.

A trajetória histórica da democracia é pouco debatida. É uma palavra mágica. Seu poder de manipulação se infiltra nas campanhas eleitorais, com uma sacralidade cerimoniosa. Depois, é esquecida ou desfila nas avenidas dos desenganos e das falcatruas. A memória curta apaga os gregos e as suas criações politicas, para alguns remotas e inutéis. A leitura histórica não é mero deleite. Mostra como as culturas interpretaram suas relações sociais, com estiveram atentas para suas qualidades de vida. Sem o confronto entre o novo e o antigo, o mundo padeceria de uma continuidade desestimulante.

Os gregos sentiram o peso de derrotas e desconcertos. Porém, tentaram reorientar as diferenças mais visíveis. Acões que fazem  parte do vaivém dos planos e imaginários de cada lugar. O mesmo acontece com os princípios iluministas e com a Revolução Francesa. A burguesia não vacilou. Derrubou o que atrapalhava seus inimigos, sem se defazer de certas práticas do passado. Desenhou acordos, colocou limites, assumiu o poder. Muitos sonhos sucumbiram, com o império napeolônico, seu imperialismo e seus ataques militares.

A modernidade exaltou o discurso democrático e se vestiu com as invenções cinetíficas, para promover o famoso progresso da vida humana. Conquistas, indústrias, pesquisas, insurreições. Nem por isso, a igualdade visitou todas as casas e os descontroles sociais foram derrotadas. O capitalismo usou a escravidão, para acumular riquezas. As mulheres não tinham direito ao voto. Os operários enfrentaram jornadas de trabalho gigantescas. Cadê a democracia? Está no bolso dos vencedores ? Nas gavetas dos senhores governantes?

Portanto, as aventuras não são exitosas. Recordá-las, deveria ensinar lições. O aprendizado é, porém, lento. Muitos o ironizam, o julgam desnecessário. Cada ato humano tem um significado pedagógico. Não é gratuito, traz sínteses anteriores. Quando o mundo grita contra os desmandos é importante que se pense que eles não são tão recentes. Longe estamos de firmar teorias que teimam em destacar avanços e obscurecer a situação carente da grande maioria. O desamparo é  quase onipresente. Não é, apenas, uma figura da psicanálise. Sua dor assusta e enfraquece o corpo, diante dos espelhos da democracia.

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2 Comments »

 
  • Zélia disse:

    Tocastes nos sentimentos que buscava nas inquietações “da minha tese”. E fico pensando… Faltei falar do futebol, da copa de 50; afinal é o esporte popular, que deveria ser democrático como o carnaval; e vejo agora a CBF manipulando a história subserviente ao Flamengo e à Globo… Cadê a democracia, ética e justa, no futebol???

    Abç, Zélia.

  • Zélia

    O futebol diz muito da cultura. Realmente, 1950 merece lembrança. Mexeu muito com a sociedade.
    abs
    antonio paulo

 

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