A dissimulação comanda o show de cada dia

Aguçar o olhar é preciso. As imagens surgem numa velocidade sem igual. Não dá para ficar preso na verdade, pois pouco sabemos da mentira. O mundo se encheu de acasos, com traços geométricos. Não há lógica, quando o pertencimento é vazio ou inesperado. São as travessias da contemporaneidade que acedem luzes  nas cavernas, espalhando especulações.

Tudo é impressionante ou simula o  nunca conhecido. As televisões comandam a ordem que estrutura o cotidiano. De repente, surgem transmissões de qualquer canto. Urgências. Os cenários não têm arquitetura definitiva. Os morros cariocas são invadidos por policiais e se alarga a violência. O mundo da droga recebe impactos e o discurso da redenção ganha poderes. Os telespectadores se encolhem nos divãs, pensando jogar um videogame. Não é filme antigo, das décadas passadas. É a atualidade, empurrada pelos meios de comunicação.

Quem está com a razão? A aposta é alta, pois o simulacro é sofisticado. Os tiros são ruídos  traiçoeiros. A audiência possui silêncio e agonia. Quer um simples vencedor ou torcer pelo massacre ? Há dúvidas. O colorido mexe com a concepção de real. O espaço único não existe. A cobertura das televisões podem amanhã aportar na sua esquina e o escândalo está feito. Para onde vamos? Os caminhos são encruzilhadas, pistas de fórmula 1, cheios de curvas e óleo.

A fabricação das imagens é constante. Parece imediata, porém preparações anunciam que a tecnologia capta sentimentos e engana quem foge do seu fogo. Tudo se mistura, por isso a ética se balança e acorda Spinoza. As soluções se fragmentam no ritmo do show. Na entrega dos prêmios do Brasileirão houve de tudo. Conca foi o craque do ano. No entanto, lá estavam cantores, mágicos, comediantes e o alto comando do futebol. Por final, a carência de bons jogos se prolonga. Então, resta dissimular.

A democracia vai na onda. Consulta pública para eleger os melhores. Telefones em ação, lucros correndo para os cofres, denúncias de subornos desmentidas e a incessante vontade de conviver, com a novidade, se infiltra nos corações. A globalização garante o sucesso de algo que aconteceu no mínimo escoderijo. Quem pode esquecer das aventuras de Truman, num filme profético e sagaz? A liberdade não está perdida ou longe dos debates. Difícil é medi-la ou envolvê-la na ficção promíscua.

Escorregar na pressa não tem importância. O olhar não absorve tudo, também tropeça e testemunha negligências. Ulisses firmou-se, na sua aventura, sem deixar de ouvir o canto das sereias. Abraçou o feitiço, mas não vendeu a alma. A história busca o tempo que a afague e a astúcia que a proteja. O eterno retorno lembra que a transformação promete renovações.  O reino da fantasia tem muralhas, como a antiga Constantinopla.

Quando a vida pede respiração e se ilude com as aparências das formas, as possibilidades de ultrapassar os limites diminuem. É fundamental mirar no espelho e perceber suas quebras. O show é apenas um pedaço, o tardio que alimenta os corpos cansados de trabalhos medíocres. A máquina tira sua atenção, seu sonho e o cheiro do seu travesseiro. Salve-se com o perfume das palavras.

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2 Comments »

 
  • Flávia Campos disse:

    Antônio Paulo,
    Só que está em “estado de palavra” pode contribuir para que a vida tenha “respiração” e a audiência supere a “solidão e a agonia”. Esse é um talento raro de quem enxerga as grandezas de longe e as separa profeticamente das “coisas sem feitio”.
    Abs
    Flávia

  • Flávia

    A palavra ajuda quando se espalha e comunica sem querer inibir. É o caminho da sensibilidade.
    abrs
    antonio paulo

 

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