A extensão da dor e dos segredos
não há silêncio que se eternize pela vida,
o ruído o acompanha sem acanhamento.
a dor não é uma invenção negativa.
ela se estende em cada incompletude.
os amores desfeitos, as mortes repentinas
costuram os diálogos mais profundos,
retomam os desenhos imprecisos dos pesadelos.
há na vida a sombra constante do segredo
o desejo de ir além, sem escorregar no vazio,
o traço perene de um vestígio abandonado.
somos divindades tardias, sem nomes, nem origens.
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Entendo a eternidade do silêncio como uma necessidade de estarmos sempre nos escutando – o que não é um hábito da maioria -, e muitas vezes ele chega impregnado por outros ruídos, sons estrondosos, retumbantes.
Fiquei aqui dando volteios no meu pensamento, sobre “a dor não ser uma invenção negativa”, e me digo que ela, a dor, amiúde, não é negativa quando finalmente a compreendemos (mas mesmo assim é uma dor), o que me dizes, António Paulo? E recupero um fragmento de um poema do Carlos Drummond de Andrade: “Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram”.
E o que faremos com as sombras dos segredos e mistérios, diga-nos, Mestre?
Abraço e grata pela belíssima escrita (como sempre)!
Valda
Grato, pelas belas palavras. Assim dividimos as tantas reflexões e segredos do mundo.Escrever ajuda a estender as preocupações, mas também a buscar a conversa e o afeto.
abs
antonio paulo