A fuga nua
deixei que a força da linha curva me entortasse o corpo,
pulei pela janela para me livrar da agonia da memória
de um quarto escuro, estreito, abandonado, quase morto.
desfazia a vida na tristeza envelhecida e descontínua
queria a fuga, o mundo da rua, a nudez sem segredos.
as palavras parecem garantir os retornos das magias
mas os nomes padecem de sincronias comuns
e não conto a história anônima que foi vivida.
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A memória, essa que nos constrói – e que nos destrói – visceralmente, tantas vezes; a memória como um corpo autônomo e que sai às ruas e se depara consigo, no espelho que é o outro, na história que assistimos, construímos e vivemos, mas que, queremos torná-la também anônima, um ato quase titãnico, nesses tempos de cultura mediática, de olhos que tudo veem, e de alguma necessidade de visibilidade (a emergência de outras vozes), imposta por esta nossa sociedade, e insaciedade de palco (estou generalizando)…
Antonio Paulo, esse poema me prendeu aqui, reli-o tantas vezes, como se esse ato despertasse a necessidade do meu saber ancestral, o que eu sabia – se é que sabia -, muito antes, na explosão do Cosmos, na fundação do mundo, anterior à invenção do alfabeto e da escrita, quando aprendi a emitir algum som, o primeiro som.
Como se me fosse imputado a tarefa de recuperar Mnemósine, Clio e Melpômene, ao mesmo tempo, todas em suas atribuições a me contarem os perigos dessa magina infinita que é viver.
Reflexivo e belo como sempre!
Valda
Seus comentários sempre animam. São reflexões que dialogam com os escritos e trazem muitas perguntas. Isso é bom. Convivências que nos mostram sensibilidades frequentes.Os poemas costumam mergulhar e você acompanha os mergulhos. Grato.
abs
antonio paulo