A grana cara-pálida: o assédio, o Chelsea e Neymar

Os escândalos sexuais dominavam as páginas de jornais especializados em movimentar fofocas. Nomes de artistas, princesas, reis, políticos famosos faziam o delírio do noticiário. O assédio tinha outros tons e objetivos. O corpo era o alvo. A nudez ganhava espaço em imagens clandestinas e comentadas até a exaustão.

Mas os tempos mudam. A grana  prossegue  nas mãos de uma minoria. Vive-se um império dissimulado em eleições democráticas, onde a propaganda possui lugar de destaque. O mundo gira em torno de patrocínios, de charmes programados, de discursos da euforia vazia, de poderosos como Abramovich, dono do Chelsea. O futebol não está ausente da agitação geral.

O mercado não cessa de procurar bons negócios. Com a riqueza concentrada, a pobreza ainda globalizada, o valor de troca expande-se sem medida. O jogador de futebol vale milhões, quando se visualiza sua excelência na condução da bola e sua capacidade de ser diferente. Não importa a sua idade. Os euros não têm preconceitos. O assédio faz parte do negócio.

Tornou-se um grande investimento adquirir os direitos sobre um craque. Há interesses que se associam para aprofundar a circulação das mercadorias. As pessoas são configuradas em dinheiro e fascinadas pela oportunidade de construir fortunas. O apelo é sedutor. No mundo do capital, quem não quer uma mansão, um carro esportivo vermelho, uma cobertura no edifício mais badalado ?

Os desejos não sossegam. O Santos passa por momentos exemplares. Revelou vários jogadores que merecem elogios e exibem arte valiosa. Os milhões parecem sedentos, pressionando para não perder as chances. Os clubes de futebol ricos são comandados por indivíduos prestigiados, pela facilidade com que promovem a circulação da grana. Não se questionam, com profundidade, as origens de tanta especulação. 

Hoje, Neymar vive a situação de avistar um oceano de moedas, na sua frente, e ser cercado por negociadores com argumentos espertos . Deve ficar com o ego repleto de sonhos. Nem pensa que, um dia, a fonte pode secar, que  nem tudo é para sempre. A pouca experiência de vida estimula, mais ainda, a fantasia.

A navegação é longa, porque Neymar representa, apenas, um segundo dessa quase eternidade especulativa. A sociedade montou-se para fabricar máquinas e transformar as pessoas em máquinas. O sentimento atrapalha, a trilha da objetividade acena com sucesso e conforto. Mesmo em plena adolescência, a fama firma-se e invade territórios.

As mansões e os iates esperam os afortunados. Depois de poucos anos, a acumulação de bens se concretiza. Se não houver desperdício ou descontrole emocional, só resta estabelecer-se como ídolo festejado nos recantos da aldeia global.

A reflexão fica para outras ocasiões. O paraíso é uma celebração, não existe para todos. É melhor sentir-se um escolhido. O futuro está distante e talvez nem aconteça. O assédio é feito para desfazer todas as resistências. O olhar crítico morre diante da força do cara-pálida.

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