A grande ressaca: inquietações e descontroles
A maior festa do ano está passando. É o espetáculo que contagia, lava mágoas, solta violência, distrai paixões. Nem todos curtem o carnaval, mas quem pode negar sua força na distribuição de encantos e ilusões? Vive cheia de patrocínios, ajuda cristalizar popularidades, sacode a cidade. É uma celebração. Atinge sentimentos, abala frustrações, cria expectativas. Quando se vai, atiça memórias. Muita saudade e sentimentos de abandono. Quem sabe um calendário mais extenso para vestir suas fantasias.
A sociedade não dispensas seus ritos. Eles se repetem, com significados diferentes. Como estamos nas tramas do capitalismo, o valor de troca predomina. As notícias circulam anunciando grandezas, garantindo liberdades, vendendo lugares privilegiados. Não há silêncio. As festas se sucedem,quebram o cotidiano, deixam a sensação de que o mundo é vasto. Como anular o efêmero? Como riscar as buscas? Com entender o tamanho das travessias?
Se as alegrias se manifestam, as sociabilidades se movimentam, as máscaras são colocadas com cuidado. Não custa brincar ou observar os divertimentos, a criatividade, o jogo de cores. Tudo isso faz parte da vida. No entanto, as contradições se mantêm. A política com suus tergiversações, seus enganos, seu descontroles. O planeta azul não consegue fechar a porta de exploração, nem negociar seus conflitos. A complexidade não se esgota.Traçamos o futuro, não podemos esconder os desejos ou cair numa melancolia profunda.
O ir e vir configuram as histórias. Há generosidades, afetos, juntos com preconceitos, armadilhas. Fica difícil definir se haverá, uma dia, a concretização de utopias. As dúvidas não permitem que os sonhos sejam mais perenes. O mundo é cercado por ambiguidades. Construímos histórias com sentidos de múltiplas interpretações. Se existe consistências em alguma coisa, não temos certeza. O próximo passo nem sempre representa o malabarismo do frevo.
Desenhando luzes e sombras vamos partindo, ensaiando despedidas, sabendo que o tempo se move com invisibilidades esquisitas. Nem por isso, as teorias tornam-se inúteis. É preciso esticar a imaginação, disfarçar os limites, cruzar as estradas, mesmo que os abismos provoquem medo. Inventar a vida é sinal que o fôlego se anima. Adormecer é fixar apatias. Quem pode olhar seus espelhos e não descobrir que é fundamental reconhecer o corpo e seus sentimentos? Sem inquietações o cansaço ganha espaço autonomia.
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