A (im)possível medida das histórias do humano

As ordens das finitudes parecem soberanas. Não se cogita dimensionar o eterno para além das fantasias que nos aprisionam. Construímos tudo com a sensação de que tempo via mostrar as fragilidades e desmanchar as pretensas certezas. Nem por isso, desistimos. A história fascina, sobretudo, porque lembra ousadias e atiça medos. Há conformismos, entrega aos poderes divinos, timidez em atirar a primeira pedra. Não há território que acolha as dúvidas que seguem a trajetória da vida. As formas são múltiplas, não poderiam ter concretudes inabaláveis. Escrevemos  conversando com os limites, mas querer aquietar as perguntas é fugir do centro da existência.

As perdas circulam e acompanham o inesperado. O apego aos mandamentos científicos não elimina a vastidão das incertezas. O importante é observar que as respostas são passageiras. Não há medidas que definam o nome de criaturas que ocupam um universo que flutua como espelho do inacabado. Não bastam gramáticas, arquiteturas, matemáticas, astrologias. Os conhecimentos ajudam a tocar nos mistérios. Os questionamentos não cessam, nem garantem o poder da racionalidade. Os labirintos reproduzem-se numa velocidade intraduzível, mas humana e curva, como as reflexões de Nietzsche.

Torna-se quase um lugar comum dizer que estamos no meio das ambiguidades. Serão desenhos de sofisticações intelectuais diante das impossibilidades? Se a vida se resumisse à existência de histórias de tédios e de vazios, a cultura não respiraria na busca de intrigas, conflitos, fórmulas para conjugar estranhezas e decepções. O que marca é o malabarismo de cada um configurando seu lugar no mundo do visível e invisível. Somos diferentes, porém com uma igualdade submersa em cada sentimento que nos faz mover o mundo. Tudo possui seu fôlego de especulação. São cometas que atravessam  século para não apagar o mínimo de memória.

Contemplemos. Há sorrisos, irritações, separações, ressentimentos, gratuidades. Seria impossível nomear o que nos espera e o que nos despedaça. O outro não é apenas imagem, contudo sustenta identidades e cria comportamentos. Acontecem momentos que nos tiram do vaivém do mundo e não conseguimos localizar o que seria a vida se todas as portas tivessem chaves e as estradas sinalizações. Sempre a dúvida, sempre procura de um discurso do método, sempre um clareza que se esconde no meio das sombras. Não é à toa que as relações se repetem, os ódios e os amores despertam. Nunca estamos vivendo o mesmo. Há ressignificações que se espalham como rios de margens largas.

Portanto, trazer as ambiguidades não é deleite intelectual. Elas estão em toda parte, pois o controle das coisas não admite descanso. Mas há controle, ordens definidas, paraísos eternizados? Prefiro não firmar convicção. Escrevo, porque me sinto bem com as palavras. Talvez, uma solução afetiva e estética. Não sei da verdade, muito mesmos da medida. Posso passear com as palavras, construir meu oceano azul com calmarias perenes, enquanto não chega ao ponto final. O lúdico anima, engana os ponteiros do relógio, dialoga com o surpreendente. As histórias dos humanos entretecem o contar e o viver, embalam os arcanjos que adormecem nas palavras.

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