A luta anarquista, a desigualdade histórica, o livro de Hans Magnus

 

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O anarquismo não conseguiu as vitórias que imaginava. Possui, ainda, uma visão otimista das possibilidades de superar os impasses sociais. Mas nada garante mudanças. As travessias da história  não fogem da exploração. Muita violência, competições sofisticadas,  dureza nos negócios. O espaço para igualdade diminui, em  alguns aspectos,apesar das manipulações feitas para naturalizar preconceitos e agressividades. A sociedade é cenário de lutas. Não há sossego. O anarquismo defende uma utopia: a igualdade. Outros também quiseram transformar o social, jogar fora o lixo das sociabilidades perversas. O mesquinho anda solto e as convivências tensas persistem. Há quem acredite que enganar é vital. Cogitam a democracia criando um espetáculo sem ponto definido.

Hans Magnus escreveu um livro fundamental: O curto verão da anarquia.  Talvez, um romance ou quem sabe um relato das astúcias que regem o humano. Localiza-se na Espanha, passando pela Guerra Civil e os escorregões dos desequilíbrios dos anos 1930. Hans inova na escrita, traz reflexões insperadas, toca na sensibilidade. É uma obra que atrai e inquieta. Até onde se constrói a possibilidade de desfazer os ressentimentos e sepultar as disputas cotidianas? É preciso ter cuidado. Não basta sonhar para evitar os desmantelos que nos angustiam. Há dramas no conviver e labirintos desocupados com esfinges espertas.  Sobram incertezas em desertos quase infinitos.Hans navega na diversidade, multiplica fontes, dialoga com o leitor. Desmascara, fere, desvenda.

É impossível analisar o anarquismo sem observar o limites das condições humanas. Hans lembra-me Camus. Já leu o Mito de Sífiso?Arquitetar paraísos não é nada estranho. Porém, a história mostra assaltos, desconfortos e crueldades constantes.Eles são inesperadas? Há permanências ou as revoluções sacudirão as sujeiras e reinventarão o sentimentos? O livro nos coloca agonias existenciais. Quem pensa que a história é apenas o desfilar de cronologias e a celebração de acontecimentos? As teorias dançam nas profecias ou simbolizam regras salvadoras?  Quem ilumina as bipolaridades de Narciso ou as rebeldias de Prometeu?Os anarquistas queriam desmontar as injustiças, maldiziam os poderes, enfrentavam oposições até mesmo dos comunistas. Eles nunca se articularam bem. Detestavam-se, na surdina.Discordavam-se nas estratégias de dominação e nas armadilhas da violência.

No livro, a figura mítica de Durruti compõe ruídos avassaladores. Todos sabem que os franquistas  venceram seus opositores com ajuda de Hitler e vacilações de outros grupos que poderiam fortalecer a luta dos anarquistas. A escrita de Hans nos leva a um território povoado de incertezas. A cerimônia da morte de Durruti, anarquista radical, é um anúncio  de que há contradições e que o poder produz descontroles frequentes. Forma-se um complexo imaginário. Não há história sem pedras no meio do caminho, nem os poetas sabem o que fazer com elas. Desenho, sepulturas, horizontes? As pedras são espelhos. Olhem-se nas páginas do livro, na precariedade dos sonhos que subestimam as impossibilidades. O humano é ousadia anônima. Para quê? Para bordar a pedra nos seus delírios inconsistentes.

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