A palavra: seus enganos e suas cortinas
O mundo está repleto de imagens. É preciso compreendê-las. Quem as despreza se sente fora das espertezas do cotidiano. Mas tudo é confuso, pois os significados não cessam de usar disfarces. Não esqueça que as palavras ainda criam cortinas de fumaças. Não se iluda. As controvérsias existem, não há homogeneidade, as balanças pesam desigualdades, pois as saídas mostram desertos e as minorias continuam assanhando privilégios. As palavras possuem poderes, perturbam, atiçam ingenuidades. Fugindo da autonomia, grupos sociais elegem porta-vozes e aplaudem sandices. Há um sagrado que se mantém para anular as críticas e fechar as portas.
Mas existem espetáculos em toda parte. Toda uma cronologia de datas que assinalam comemorações. Surgem palavras que procuram assegurar festividades. Falam de felicidade com se ela estivesse na praça vizinha ao mercado mais agitado. As palavras adoecem, se intimidam, ficam sem sangue. Quantas vezes se repete que o mundo ganha novidades. Meras chantagens comerciais! Será que elas sobrevivem? Já ouviram os ruídos de quem se diz democrata e ou outros que confessam amor pelo próximo?Eles permanecem e ampliam a cobrança de dízimos.
Há desperdícios. As farmácias juntam dicionários de saúde. Estão vendendo alternativas para tudo. As bulas lembram orações misteriosas. Observem as batas brancas, os perfumes, as gentilezas.Tudo tem um nome e aprisiona desejos. Portanto , as palavras estão escravas das espertezas dos negócios. Valem grana, atraem. Italo Calvino afirmou que não existe linguagem sem engano. Foi generoso, pois se esqueceu das tramas do capitalismo e das aberturas para multiplicar mentiras. Tudo gira como uma máquina apavorada. O medo não se ausentou.
Não é sem razão que muitos se acomodam. Compram uma poltrona, enchem a boca de sorvete e ligam as TVs. Deixam as imagens soltas e as atmosferas de fantasias sem restrições puxarem seus olhos. Cochilam, se iludem, chamam por sonhos. Difícil é dialogar, inventar reflexões, entender as multiplicidades. A massificação possui limites e pretensões imensas. Aliena com sutilezas e dubiedades. As palavras se apequenam, servem aos dominantes de forma estreita e mesquinha. A sociedade não ultrapassa seus lugares comuns . Não sabe o tamanho da sua mudez oculta e o perigo de delírios fabricados.
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…as palavras e seus significados tanto podem condenar como libertar corpos humanos que se organizam ou se desorganizam na ordem social artificialmente criada, instituída e sacramentada. Estamos no mundo e este se apresenta de forma codificada. Como entende-lo diante da sua imensa complexidade? É possível entender tudo? É necessário identificar limites, manipulaçoes e interesses nas discussões sobre a ordem das coisas e suas regularidades, tudo segue normas culturalmente estabelecidas, tudo pode ser mudado e reformulado. A questão é saber e problematizar que tipo de mudança devemos esperar ou almejar da ordem que se constrói ou que se mantém do mundo, do espaço ou do lugar que habitamos. E aí, a história, a literatura e as artes em geral ampliam nossos desejos diante de possíveis sociais mais atraentes e com mais liberdade e igualdade econômica para todos, nos ajudando a escapar de armadilhas falaciosas a indicar apenas um determinado caminho a organizar a ordem social que se apresenta…