A política abraça, sente saudade, concilia, conflita

Lula sai. Dilma entra. A partida. A chegada. As embarcações se movendo, no porto, em busca de um cais sossegado. Tudo muito simples. A democracia se efetivando,para que a sociedade consagre valores e consiga avaliar suas tradições. A política se fortalece com os deslocamentos, quando ouve a maioria e se desliga dos ruídos das invejas. Tudo muito complexo. Não cabem profecias. Lula e Dilma se deram as mãos. Parecem juntos, conjugando os mesmos verbos.

Nem sempre o futuro assegura as projeções. O desmantelo não foge das relações de poder. O cinismo não é estranho à rede dos interesses. A maldição do pecado original ronda cada ato, ameaçando o otimismo. Lula chorou, firmou sua fé em Dilma e prometeu sequência. Nada de retrocessos, depois de abrir o caminho, com objetivo de acabar a fome e a miséria. As polêmicas se acederam, pois há quem veja um golpe  disfarçado nas promessas, nas andanças populares do ex-presidente. Desconfiam do ar que ele respira e maldizem seu bom humor.

Não há política sem conflito. Nem sempre, eles se apresentam com clareza. Os subterfúgios são muitos. Lançar olhares de inveja faz parte do jogo. Mas é possível prever entrelaçamentos permanentes e espaços  para a ética não se desmanchar. O futuro pode riscar pactos. A história está saturada de exemplos de desconfortos entre, antes , amigos inseparáveis. A vida tem muitos sentidos, o coração, sentimentos múltiplos.

Lula deixou muita gente estupefacta. Não dizimou todas desigualdades e apresentou contradições. O Brasil é carente. Passou pela escravidão, teve a violências dos colonizadores, viveu ditaduras. Suas marcas de autoritarismo são chocantes. Houve mudanças, arranhou-se certas práticas conservadoras que pareciam inatingíveis. A saúde e a educação se arrastam. Não se avança, sem a inteligência e o ânimo da crítica.

Tocou-se na auto-estima. Um trabalhador no poder. Poderia ser um sonho, um deslumbramento. Lula perdeu eleições, mas seguiu adiante. Quase que o descrédito o sepultava politicamente. Levantou-se, valorizou as experiências, costurou alianças. A perplexidade não foi pouca. Atingiu índices de popularidade nunca vistos. Findou seu governo , com prestígio e não lhe faltou descontração. Cogita-se sua volta, o seu fantasma assombra seus adversários.

Sobre o poder e a política  muitas ilusões caíram. Certas ingenuidades sumiram, diante do fracasso de planejamentos e de discursos progressistas. A cultura se ressente de justiças que se prolonguem, sem fertilizar incertezas. A modernidade secularizou comportamentos e empurrou dogmas para as lixeiras dos discursos do método. O capitalismo estendeu seus tentáculos, exterminou fronteiras e supera crises. O mundo das mercadorias e do espetáculo prevaleceu. O narcicismo não se apagou, foi reforçado.

Lula alterou ritmos e linguagens. Superou-se, depois de tantos desfazeres. Conciliou, falou das oligarquias, não deu às costas para os banqueiros. Desenhar um julgamento das suas aventuras é tarefa quase impossível. O simbólico também ganhou outras dimensões. Houve acertos  na pedagogia de certas atitudes. A leveza não causa atrasos, ela traz energias. É bom finalizar, sem atropelos maiores. Os buracos da miséria, ainda, podem ser medidos e incomodam. O tempo responderá certas dúvidas.

You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.

4 Comments »

 
  • Rosário disse:

    Professor,

    Antes de começar um dia de trabalho intenso, toma minha dose diária de blogliteratura. Seu texto tem duplo efeito: a)o jogo político pode ser comparada ao chá maluco (eterno retorno) da Alice. Mudam-se os lugares. Usam-se as mesmas xícaras sujas. Mas é uma nova rodada. Uma nova jogada. As regras do jogo, essas mudam mais lentamente; b) escrever sobre os jogos políticos pode ser um exercício de leveza,ledicadeza e sinceridade.

    Abraços

  • Rosário

    Gosto muito do que diz. Muita sensibilidade.Sinto-me um aprendiz. Isso é bom e mexe com a vida.
    abs
    antonio´paulo

  • Flávia Campos disse:

    Gostei Antonio!
    “Lula sai, Dilma entra”. Demos “partidas e chegadas” importantes, inclusive nas questões de preconceitos de classe e de gênero. São “as embarcações se movendo, no porto, em busca de um cais sossegado”.
    Sou suspeita para falar, mas tenho muita fé na Mulher. Acredito que dela emerge uma atitude fundamental – a ética do cuidado. O cuidado com a vida, com o humano, com um novo paradigma civilizatório, promotor da realização pessoal e coletiva.
    Aposto na Dilma, e torço junto a você Rezende, para que ela acolha a crítica,“avance com inteligência e ânimo”, aprenda com os “acertos da pedagogia de certas atitudes” e mostre (o que Neruda já nos mostrou) que as mulheres no poder também são capazes de “brigar por aquilo que acreditam/ de levantarem-se para injustiça/ de não levarem “não” como resposta quando acreditam que existe melhor solução”…
    Além de amarem, incondicionalmente!!!
    Quer mais?
    Bjs
    Flávia

  • Flávia

    A esperança se acede, mas o Brasil é complicado. Vamos ver , se ela se mantém firme.
    bjo
    antonio paulo

 

Deixe uma resposta

XHTML: You can use these tags: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>