A política das desconfianças e as versões confusas

Vivemos na era das notícias. Elas explodem. Chamam a atenção e atiçam conversas. O problema é saber qual a possibilidade de descobrir as verdades. Será que cabe essa palavra num mundo tão cheio de complexidade? Até  na aplicação da lei não faltam interpretações duplas. Quando se discutem as sentenças surgem desacordos que nos deixam para além da perplexidade. Foi sempre assim? Houve períodos históricos onde imperavam a ética e o equilíbrio? A política já teve bons diálogos com a coletividade, dissipando privilégios e desigualdades? Somos mesmo perseguidos pelas carências?

É difícil construir as certezas. Precisamos delas, mas o reino da desconfiança se expande. O capitalismo dispara a competição, portanto os disfarces ganham vitrines imensas. Há sempre ameaças e as fronteiras entre a verdade e a mentiras tornaram-se um espetáculo. Prefiro reforçar que a incompletude não é nada moderna. Ela vem de longe, dos primórdios mais remotos. São fundantes. Os desenganos são antigos.Eles se instalam em lendas e mitos. Não se deve esquecer que, hoje, as invenções são outras. Tudo ganha uma (res)siginificação que  agita o raciocínio. A sociedade não descansa, simula progressos e esconde desperdícios.

Negar as hierarquias é mergulhar na embriaguez total. Os poderes estão em toda parte. O que prevalece são discussões teóricas gigantescas  nas  academias reverenciadas por intelectuais na busca de fama e de audiência. As utopias enfraquecem, porém guardam forças. Não dá para desprezar as idealizações. Os realismos sofrem ataques e não esgotam suas explicações. Tudo se reparte, porque as ditas verdades também se fragmentam e ferem grupos que discordam de sonhos democráticos. Num mundo de hierarquias, cabem desejos e dúvidas, nunca sossego e consolidações afetivas. A atmosfera não perde as sombras.

A velocidade nos traz agonias. O tempo para contemplar se ausenta. As respostas imediatas dominam sem facilitar a respiração dos mais pacientes. Exige-se agilidade, desde que ele carregue acumulações. É importante manipular com cuidado as contas. Visualizar a qualidade é outra perspectiva, pois a política se profissionalizou seguindo os princípios da economia. Os discursos mudam no ritmo do pragmatismo. Há configurações bélicas, fanatismos, máscaras diplomáticas. As notícias correm dando conta de versões. Basta observar o que está acontecendo na região da seca ou os apelos dos Estados Unidos para findar o terrorismo. Qual é cenário que merece crédito? Por onde andam as investigações  e os projetos com o dinheiro público?

A multiplicidade é colocada como uma virtude de um tempo de culturas de identidades móveis e efêmeras. É uma conclusão ou forma de firmar que a luta não se esclareça? Talvez, nunca tenha sido possível desvendar. A história está repleta de mistérios, de maldições, de palavras suspeitas. Vivemos nosso tempo, fabricamos narrativas, retomamos passados. Perder o olhar que distingue é o pecado maior. Tudo não é igual, as diferenças se acumulam, a sociedade não tem data para fechar suas cavernas. A globalização sofisticou mentiras e brinca com a tecnologia. O desgaste é grande, quando as sociabilidades se armam como circos sem trapézios. O risco vem com a notícia e a insensatez.

 

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