A política mergulhada no pragmatismo dos negócios

A sociedade não vive de fragmentos soltos. Muitas vezes, não conseguimos avistar as conexões, devido a complexidades dos atos das pessoas ou mesmo das estruturas sociais marcadas por regras misteriosas. A transparência vive de discursos. Há muitos esconderijos, para assegurar conspirações. Portanto, a perplexidade não se cansa de nos incomodar. Teorias sobram tentando decifrar os descaminhos da sociabilidade. O muro de lamentações não deixa de crescer, porque somos teimosos. Gostamos da idealização. Nem aprendemos com a história. Sepultamos passados,  memórias, desatentos aos ritmos do tempos. Sofremos decepções constantes por falta de paciência com o s detalhes, sem falar no cinismo que faz moradia no mundo. Ele é prática comum de quem tem a hegemonia.

A política é território fértil de frustrações. Desperdiçamos sonhos, desenhamos utopias, visualizamos planejamentos, nos lançamos em busca de uma sociedade  ajustada, mas as quedas nos desanimam. A política se abastece, hoje, de disputas pessoais. Parece um grande mercado, com negociações obscuras, onde faltam compromissos e o individualismo ganha espaços avassaladores. Os partidos pouco expressam do que sintetizam suas siglas. As escolhas funcionam como armadilhas, como interesses que circulam nas bolsas de valores. Simulam-se intrigas, depois de longas amizades. Quem pensa na democracia leva escorregões que diluem opções e vontades.

Não poderia ser diferente. Uma sociedade traçada pelos riscos do pragmatismo não é lugar de confiança. A ética flutua perdida entre nuvens de tempestade. Como o descartável rege o mundo das mercadorias! Os modelos das trocas utilitárias penetram na política. Os cargos se tornam objeto de desejo. Há quem jure apostar no socialismo, quem deteste o neoliberalismo, quem diz fazer sacrifícios em nome da coletividade. A sociedade, contudo, não compartilha com estes discursos que não passam dos noticiários superficiais. A medida é a época das eleições, quando a sede de poderes desmancha responsabilidades declaradas antes da corrida em busca dos votos.

Se a competição e concorrência estendem-se nas várias práticas sociais, a política não seria o paraíso dos bons encontros. Daí, as conexões, os entrelaçamentos, as vitrines enfeitadas de manequins, meramente, ornamentais. Os partidos mudam estratégias sem firmar coerências. Se as urnas acenam vitórias, os ideais transformam-se e perdem seus contactos com princípios fundamentais para refazer os desgovernos. O importante é manter pactos com o meios de comunicação. Não tem como fugir da mídia ou mesmo construir assédio para não sair do foco. O imediato pede velocidade e assessorias especializadas. Vale a agilidade, mesmo que se percam antigas solidariedades.

Tudo isto não é estranho. As reclamações provocam dissidências. A política contagia-se com o tempo dos abraços mecânicos. Analisar as relações de forma isolada traz equívocos. Se há domínio do pragmatismo, se as famosas ideologias se desmancham, o que esperar dos deslocamentos políticos? A sociedade midiática tem apelos sofisticados. Não estamos nos primórdios do capitalismo. Os recursos de exploração caminham por outras cartografias. O conhecimento crítico abala-se com as pressões da grana. Riquezas e poder se concentram, apesar da aparente atmosfera democrática. A política é um jogo. Sempre foi, porém a velocidade agora é outra.

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4 Comments »

 
  • Maria Rezende disse:

    Painho, aqui estou eu novamente, admirando suas palavras e sua forma de interpretar o mundo. Beijos, Maria.

  • Maria

    Fico feliz com sua presença.
    bjs
    pai

  • Jonas dos Santos disse:

    Belas palavras, grande pensamento.
    A política e o cinismo andam de mãos dadas, mas mesmo assim eu sou apaixonado por ela, não que eu seja cínico kkkkkkkkkk, mas é que a política rege tudo e é fascinante.
    Mas o homem é egoísta e só descobrimos quem realmente são quando alcançam o poder..

  • Jonas

    A política possui fascínio. Seria muito bom que pudesse ser vivida democraticamente.
    abs
    antonio

 

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