A quem pertencem as histórias e as inquietações?
Não vejo no mundo uma trilha que leve ao sossego. Penso num instante que traria outro ritmo para respiração. A cultura está cercada de objetos e teorias. Há um desejo, talvez inexplicável, de decifrar a nudez das nossas vidas. Queremos histórias e narrativas que possam nos acudir. A carga das dúvidas é incomensurável. Ela existe até nos mitos de origem. Será que já anunciavam que Descartes ia trazer complexidades para o reino da fé e do dogma ? Não celebro a ideia de destino. Observo acasos que me deixam tontos. Por que, então, costurar os fatos e manter a matemática de um futuro devorador?
Houve épocas onde as utopias desfilavam. Compartilhavam-se sonhos e otimismo. Assanhavam-se projetos de eternidade. Mesmo com o mínimo de ânimo não riscamos a possibilidade de encantos. Está difícil. As inquietações moram em cada esquina, provocam instabilidades e a política não se desloca com antes. O discurso utilitarista assusta, pela falta de profundidade. Muita exclusão cultivada pelo capitalismo, com doses uniformes em cenários confusos. Não ouso comparar as desigualdades sociais que andam pelo Brasil, como o cotidiano dos noruegueses. No entanto, o desequilíbrio no mundo dito globalizado é permanente. Mas há quem não entenda as exclusões, confie nas políticas públicas ditas afirmativas.
Portanto, como buscar harmonias, olhar para outro bordando afetos, destruindo as armadilhas? O fluir veloz não é compatível com o descanso e as análises exigem pressa. Vivemos de remendos. Os que gostam dos negócios procuram transformar tudo em espetáculo. A grana se movimenta sem muito pudor e reflexão, mas com astúcia e privilegio. Há quem não visualize defeitos e se alie à necessidade de difundir a salvação pela competição. A confusão não é incomum. Milhões de pessoas vivem cotidianos e culturas que se estendem. Há estranhamentos, exílios, simpatias. As diferenças de significados exercitam animosidades. Não se compreende que a diversidade principia o encantamento.
A pergunta não se acanha: como salvar a sociedade? Acreditar na sustentabilidade surge como uma alternativa. As contradições, porém, são tão medonhas que quebram teorias, desfazem animações. Sempre, acho que sem a solidariedade a política se fragiliza. O culto às eleições e o apego aos cargos fazem estragos frequentes nas tentativas de afirmar a democracia. O poder não deveria ser uma propriedade privada e individualista. Como construir as metamorfoses se o cotidiano nos enche de novidades e envolve com espelhos? O oportunismo ganha lugar, quer plateia, não escuta e se vangloria.
Se palavra está banalizada, se as imagens só servem para seduzir e justificar o cinismo, os obstáculos ganham uma visibilidade demolidora.Como obter a autonomia se não consigo trabalhar a minha narrativa e reconhecer a minha história? Será viável a política que, apenas, se especializa na manipulação, que brinca com a tecnologia para acumular a mesmice? Sabemos das derrotas, das desilusões, das misérias. Mas elas se mostram. Talvez, uma provocação do acaso ou um determinismo enfadonho. Quem domina os indicadores, muitas vezes, não vislumbrar o outro lado do espelho. Convence para não largar o privilégio. Mantém Narciso esperto e atuante.
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