A saudade embala o tempo, a vida, a memória

Há pessoas que ficam. Criam seus pactos com a eternidade, de forma diferente, mas com uma força afetiva marcante. Outras desaparecem e morrem, sepultando lembranças e passados. Não basta formular pensamentos, divulgar invenções, organizar rebeldias. Os traços de cada um vão desenhando figuras que acompanham a vida. A memória acede o coração e nos move nos mistérios inusitados.

Hoje, Lennon faria setenta anos. Muitos diriam, uma idade redondíssima. Suas polêmicas estiveram, com densidade, presentes nos 1960. Tradições tremiam e os mais conservadores reagiam com violência. Lennon e os Beatles permanecem na agenda da contemporaneidade. Há muita lenda, exageros, mitificações. Isso compõe um mundo carregado pelas investidas da mídia. Não é novidade. O território está aberto para confusão contínua, entre verdades e mentiras, máscaras e éticas, solidariedades e hipocrisias.

Lennon meteu-se em muitas controvérsias. Sua música, junto com seus companheiros, provocava sintonias de outros sons. Expressava desconforto para os conformados, porém mexia naqueles que desejavam uma sensibilidade mais solta, sem preconceitos. O capitalismo se afirmou enchendo a sociedade de burocracias e coisificações. Com sua arte, Lennon desafiou, revelou que havia muitos caminhos.

Aliás, os chamados anos 6o ferveram, no campo da cultura. Era a busca de fixar a imaginação no poder. Houve choques incríveis. As religiões se abalaram e a velha política caiu no abismo. Não subestimemos, porém,os que se apegam às hierarquias e ao autoritarismo. As relações são complexas e muita gente fala em nome de Deus e da segurança. Quem esquece as atribulações do golpe de 1964 no Brasil ? E o conflito no Vietnã com os Estados Unidos ambicionando dominar tudo? Terminou sofrendo uma derrota histórica.

A vontade de mudar era motivo de expansão de hábitos renovadores. Lennon não foi estranho a tudo isso. Mesmo, quando os Beatles se separaram, manteve sua vida com sentidos de paz e influenciando seus admiradores. Seu assassinato foi um choque. As loucuras contemporâneas permitem esquisitices, nunca esperadas. Os ídolos são visados, pela adoração e pelo ódio escondido. O caso recente de Neymar assinala bem as dissidências. Alguns ídolos ameaçam e perturbam, outros estimulam correntes de sentimentos mais profundos, para os que se inquietam com a mesmice.

Muita coisa se foi ou se perdeu. Seus registros se esfumaçaram. O capitalismo continua esperto. Sua capacidade de esvaziar protestos e ornamentar as vitrines é incrível. Muitos que expressaram contestações viraram objetos de troca e venda. Lennon não escapou dessas armadilhas. O sistema é enganador e traiçoeiro. O que ele fez, recebeu, depois do sucesso,  uma valorização destacada do mercado, mesmo que condene seus contéudos consumistas.

É sempre bom não deixar a crítica de lado. A dominação não perdoa quem   desconfia dos seus modelos. Lennon sabia disso. Sua obras mostram  insatisfações. Hoje, vivemos essas questões: nos confrontos políticos, nos histerismos religiosos, nas avaliações narcísicas. Não faltam os que denunciam, sem compromissos, com uma gratuidade cínica.Não custa ressaltar que embalos dos tempos se misturam. A disputa é contínua. O sociedade, infelizmente, fortaleceu e sacralizou ações mesquinhas.

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