A solidão e o desamparo: o mundo sem fronteiras
Havia uma grande expectativa com a globalização. Esperava-se que as culturas se agrupassem e soluções aparecessem para minorar as dificuldades. O discurso da fraternidade ganhou impulso. As situações de vida não fugiram das desigualdades passadas. A violência mostra-se soberana: torcidas organizadas, comércio de drogas, disputas pelo petróleo, opressão das mídias, política cheia de cinismos. Não aprendemos com as lições da história? Basta sustentar que existe ordem e progresso para sociedade se encontrar? Dispenso a ideia de evolução social, pois observo que o individualismo se impõe com disfarces sofisticados.
As promessas fazem parte do jogo do poder. As religiões se interligam com a política de forma radical. Não é novidade. Consulte a memória. Quem pode esquecer das relações entre a nobreza e a Igreja Católica? Os calvinistas se deram bem com a burguesia e os evangélicos conseguem aumentar sua presença de forma acelerada. As convicções tomam contam do mundo, pois a insegurança exige que alguma coisa fique como dogma. Não há sossego. Há pessimismo, mas não há desespero. Milhões de pessoas estão soltas, cercadas pela miséria. A solidariedade é celebrada para enganar os ingênuos.
A solidão bate na porta, quando os desenganos se fortalecem. É bom conversar, sentir as fragilidades dos outros. A solidão ajuda a medir os descompassos, porém quando se aprofunda se transforma num desamparo assustador. A sociabilidade existe para nos livrar das necessidades mais urgentes? As multidões se articulam, gritam, reivindicam, dançam. Quem escolhe o caminho, quem se abraça com proximidade do outro, quem tolera as diferenças? Elegemos o virtual, passamos meses ou anos, sem rever os afetos, somos atropelados pela pressa. Olhamos a idas e vindas desconsolados, no meio de farmácias que vendem remédios que prometem curas. Será?
Depois de tantas exaltações tecnológicas e arquiteturas deslumbrantes sobram ruínas. Comprar, vender, trocar, perder, falir. Verbos que transitam pelas falas atormentadas dos que naufragam em dívidas. Quando a grande crise se torna soberana investe-se na praticidade, no lucro. Os outros ficam estranho, ameaçam, causam espanto. Não adianta festejar intercâmbios, se há medos que trazem isolamentos doentios. Na confusão globalizada, o espaço da reinvenção diminui. Somos seres do bem e do mal. Isso assusta, quando o desamparo acontece no ir e vir de bilhões de pessoas e a solidão se concretiza porque a desconfiança invade a intimidade. Surrealismo?
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