A tragédia não é incomum

 

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Há sempre sensacionalismo no jogo da mídia. Ela gosta de imagens inquietantes. Manipula bem os desejos da sociedade que não cessa de buscar novidades. Muitas notícias atraem e provocam expectativas. Será que o pecado é um produto humano? A natureza está arruinada? A tecnologia é uma dádiva? Quem acredita no compromisso dos governos? Não faltam temas. No entanto, a desgraça dos outros toca e gera debates. Tudo é muito rápido e passa deixando sofrimentos que são escondidos. Portanto, é preciso leitores ávidos por detalhes, trazer os apáticos para frente das telas, enfeitiçar para manter a audiência. Tudo é mercadoria, garante patrocínio, celebra sucesso..

Vivemos cercados de desmantelos. As hierarquias sufocam e deprimem, mas a necessidade de exibir um grande números de descuidos é importante. Distrai alguns. Ontem falaram de Davos, criaram-se especulações sobre as andanças do presidente. Surge um tema que desloca todas as atenções. As empresas de mineração parecem não gostar do meio ambiente. Mortes anunciadas, denúncias retomadas, rios destroçados. O escândalo prospera por uns dias. Há indignação, levantam-se dados, observa-se a precariedade geral. O suspense é grande, as milícias silenciam, as pessoas se reúnem na sala de jantar curiosas e traumatizadas. Momento de aflição fabricado, porém há lamentações firmes e profundas. Há quem não se iluda com os malabarismos. Desconfia e sente atmosfera suja.

Quem  analisa as pequenas tragédias? Há refugiados, analfabetismo, desemprego, crime organizado. Isso faz parte do cotidiano. É tragédia, porém quanto vale? Que imagens temos da miséria? A fome faz parte do sistema? Que sonhos podem ser imaginados se não há espaço para igualdade? Dói ver as falcatruas das mineradoras. Não são punidas e há quem tenha pena do prejuízo das empresas. E as pessoas que estão embaixo da lama? Conhece Itabira, terra de Drummond e feudo das artimanhas da Vale do Rio Doce? A riqueza encobre os desgovernos e protege privilégios. Quem controla a verdade e se salva  com louvores? E as ações na bolsa ferem o ritmo do capitalismo?

Somos mortais. Para certas religiões, somos eternos devedores. Merecemos perdão ou o fogo do inferno? A incompletude mostra que a perfeição inexiste. O trágico é uma invenção da cultura ? Lembram-se das obras de Sófocles, da aridez das perseguições políticas, das chacinas racistas? O trágico inventa e possui muitas formas Não faltam memórias arruinadas. Elas incomodam e a sociedade quer espetáculo. Se não houver crítica e rebeldia os registros se vão e morrem as revoltas. Convivemos com tragédias,  resta saber o que aprendemos com elas. Muitas perguntas tensionam as emoções, muitas vezes, de forma superficial. Cuidamos pouco da solidariedade. Desligamos, conectamos, ampliamos acontecimentos. Que fazer? A pulsão de morte não abandona a história.Mortais e predatórios, é o que somos.

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1 Comment »

 
  • Rivelynno Lins disse:

    … é, estamos, implantados na cultura do efêmero, do espetáculo e dos sentimentos artificiais produzidos pelos meios de comunicação, patrocinados pelas empresas do consumo. O outro, a dor, a perda, o sofrimento, tudo precisa ser condensado, prensado, fotografado, editado e exibido no momento certo, na hora exata, o que interessa é a audiência e se esta precisa captar as práticas de sofrimento das pessoas desassistidas pelo Estado e por toda a sua negligência, então vamos lá, nesse momento ninguém se interessa em resolver nada, a única preocupação é fazer com que os afetos sejam produzidos nas proporções e horas adequadas ao espetáculo narrativo das empresas de comunicação…

 

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