A violência organizada ou a desigualdade permanente?

As notícias não cessam de trazer escândalos e corrupções que se prolongam pela República. Tudo vem acompanhado de acontecimentos marcados pela violência. Se elogiamos a multiplicidade da cultura, não podemos deixar de assinalar que as desavenças intrigantes e a falta de solidariedade ganham corpos. A violência se veste de brutalidade incomum e retoma preconceitos que pareciam desfeitos. Não há quem se segure, embora muitos apresentem justificativas e não faltem disfarces sofisticados.

Os discursos políticos salvacionistas servem para celebrar promessas. Há euforias desenvolvimentistas que lembram tempos passados. Os especialistas criam programas, redefinem planejamentos, anunciam que erros que serão anulados. A distinção é problemática. Muda-se de partido, busca-se apoio, luta-se por cargos, despreza-se qualquer forma de ética. Como dizem, as exceções existem, Não devemos partir para afirmações absolutas. As lacunas se espalham, mas também críticas e desejos de rebeldia se firmam.

O perigo das desmontagens e das máscaras nas conversas é estabelecer desconfianças. As saídas terminam ficando escassas e as indefinições agudizam o cinismo. As desigualdades sociais já revelam uma violência cotidiana. As cidades sobrevivem, cercadas de carências, massacrando o coletivo. Os privilégios de minorias permanecem intocáveis. Portanto, as mobilizações mostram que os desmantelos são frequentes e atingem amplamente a cidadania.

A luta política se consolida na administração de culpas. Não se arquitetam projetos consequentes, porém as acusações explodem. Há provocações, nem tudo se faz com provas, contudo as confusões angustiam. Será que os princípios básicos se foram e a sociedade do espetáculo se diverte de forma perversa? A crise segue com a história. Quando os abismos se apresentam e os sinais de desespero se atiçam, quebram-se sociabilidades fundamentais.A violência ocupa, insistentemente, os jornais e as conversas.

Se vai para as ruas em busca de brigas, desencontros, raivas.  E o tráfico de drogas, os crimes constantes que acontecem nas favelas do Rio ? Muitos suspeitam de conspirações com objetivos de desmontar os poderes dominantes, outros analisam a falta de governos atentos ao coletivo. As polêmicas se acendem com tensões assustadoras, pois há também violências domésticas que desfiam as famílias e chocam pelo inesperado. Uma sociedade que teme visualizar o seu futuro, sente-se ameaçada.

A violência configura a insegurança, é uma resposta, uma trilha desconcertante, Não houve, no entanto, períodos da história sem embates, emboscadas, desequilíbrios.Não se olha para o passado, não se dialoga com memória. Vive-se o imediato e fabricam-se ornamentações para inibir o vazio. Tudo andando por uma ponte estreita que balança. Há fragilidades, mas também arrogâncias ou magias tecnológicas que não convencem. Sem fronteiras, a sociedade se mistura.  A massificação festeja inutilidades.

Não é à toa que as religiões procuram o juízo final e o conforto do paraíso, sem fugir do mundo das mercadorias, sem crítica à lógica dominante. A  desigualdade social abre espaço, para que as convivências afetivas não se estreitem. Existem um estranhamento e  um exílio sem sentido.  Esquecemos que somos animais sociais . Se tudo enfraquece os valores de comunhão, as violências não se findarão. As reinvenções não desapareceram, as crises mudam suas vestes. É preciso atenção, pois nem tudo é divino e maravilhoso, mas trágico e intimidador.

 

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2 Comments »

 
  • Anuska Salsa disse:

    Há uma carência muito grande de comprometimento com o outro. O que precisamos realmente é de amor, receber e doar, ou melhor, se doar ao amor do próximo e para o próximo. A maior Revolução é o amor.

  • Anuska

    A convivência afetiva é uma saída, mas vivemos numa sociedade muito competitiva. Isso dificulta a afirmação da solidariedade e do olhar para o coletivo. No entanto, não é possível desistir de fazer as escolhas e as críticas.
    abs
    antonio

 

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