As aparências enganam e mascaram a violência

    

O mundo turbulento não cessa de inquietar-se. A busca de soluções toca nas aparências. As transformações profundas não acontecem. As tensões continuam, porém ganham ritmos e interpretações diferentes. O cerne da exploração não promove muitos comentários. O importante é o sensacionalismo. A dor do outro está distante. As imagens coloridas mascaram sua extensão. Penso que estou diante de uma tela, distraindo-me com as façanhas dos artistas de cinema. É interessante os desfazeres dos meios de comunicação. A insensibilidade passeia, como uma espetáculo tardio.

As rebeliões foram atingindo o mundo árabe, com a participação de jovens, seus diálogos na internet, sua disposição para mover as ditaduras. A expectativa não diminuiu. A violência corre solta na Líbia. Mas há perspectivas pouco lembradas. Elas assustam, sobretudo, os europeus. Para onde vai tanta gente ? Existem moradias, empregos, acolhimentos para salvar os imigrantes? Tudo isso, abalará alicerces econômicos. As multinacionais estão atônitas, armando suas estratégias e pesando seus prejuízos. É uma região de muitos investimentos. Para onde irão os trabalhadores ?

Por enquanto, as manchetes dão conta dos desejos de fuga. O sufoco amedronta, esvazia sentimentos de esperança e coloca, em foco, a sobrevivência. A história, porém, prossegue. Ninguém sabe seus caminhos, com segurança, e as controvérsias futuras. No entanto, o passado traz anúncios nada edificantes. A memória atiça lembranças. As colonizações não pouparam vítimas.Elas não estão distantes. O capitalismo busca formas que se renovam. Mesmo com  as solidariedades internacionais, os utilitarismos não desapareceram. Há quem trame, para não perder seus lucros acumulados.

O alarme já foi dado. O governo italiano abriu seu discurso e procura parcerias. A chegada de grupos de árabes altera relações sociais e cria dificuldades de convivência. Vive-se o momento de crise de radicalidade visível, mas há conflitos que desabrocharão, trazendo transtornos para as ordens estabelecidas. O debate não é novo. A Europa se incomoda com a chamada presença estrangeira. Uma análise das suas políticas públicas mostra que o abismo é grande. Os impasses crescerão e, aí, os pertencimentos culturais exigirão medidas mais decididas.

O problema não é passageiro. Os poderosos não o ignoram. O pior não se foi. O vulcão ferve, o coração não distrai. O futuro não pode ser colocado numa caixa fechada, porém as instabilidades se instalaram. Haverá arrumações, talvez lentas, que reconfigurarão o mapa das relações internacionais. O choque de costumes, de crenças, de ressentimentos tem permanências. Observem as declarações dos governantes e as queixas dos insatisfeitos. A sociedade se fragmenta e suas feridas abertas ultrapassam os jogos mesquinhos das especulações financeiras.

O lugar do inesperado não se desloca da história. Quando a mesmice acredita  consolidar suas dominações, explodem pesadelos e sonhos. Contemplando as várias aventuras contemporâneas, vemos significados de todas as cores. Uns brincam carnaval, outros temem a chegada das chuvas intensas. Uns se espalham pelas ruas, lutando e sangrando, outros se preocupam com os lançamentos da Fiat. A famosa corda bamba faz os sujeitos usarem seus malabarismos possíveis. Ninguém decifra as origens, nem adivinha o fim. O movimento da história acompanha a vida e os preconceitos, com atenção.

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6 Comments »

 
  • Carlos Eduardo Medeiros disse:

    Antônio Paulo,

    É muito bom ler os seus textos novamente. Estava sem computador em casa desde o fim do ano e não pude desfrutar deste convívio. Após ler o seu texto me veio a cabeça uma tristeza, o egoismo do ser humano. Não perceber o “irmão”,cristãmente falando, é uma triste característica nossa. Carnaval, Reinado de Momo e muita letargia. Será que esse “rei” não faz nada diante de um povo faminto? Carente do contato físico de um abraço, de carboidratos e proteínas.Todos os dias quando coloco os pés no chão depois de uma noite de descanso merecido tento ser um pouco melhor do fui, isso não é demagogia, faço disso a minha realidade e se fosse a de todos não sería necessário entregar o “poder” a uma figura patética nesta época do ano. Sermos um pouco mais irmãos independente da cor, crença ou etnía faría do mundo não um lugar perfeito, mas com certeza mais harmonioso.

    Abraços,
    Carlos Eduardo.

  • Flávia Campos disse:

    Antonio, que imagem tão bela!
    Emociona, mais ainda, depois da leitura do seu texto.
    Faz emergir, mais forte, uma pergunta com um tanto de tristeza: Qual o mundo que estamos preparando para as nossas crianças do hoje e do amanhã?
    Como, em meio a tanta turbulência e inquietude rearrumar as crenças, os sentimentos, os ressentimentos, os sonhos?
    Rezende nos lembra que “quando a mesmice acredita consolidar suas dominações, explodem pesadelos e sonhos.” (…) “Significados de todas as cores”. (…)“malabarismos possíveis”…
    Fernando Pessoa, no seu também “Desassossego” nos diz: “Vejo as paisagens sonhadas com a mesma clareza que fito as reais. Se me debruço sobre meus sonhos é sobre qualquer coisa que me debruço. Cada vida, a dos sonhos e a do mundo, tem uma realidade próxima, mas diferente, como as coisas próximas e coisas remotas. As figuras do sonho estão mais bem próximas de mim. (…). Só o que sonhamos, é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda gente”.
    Rezende e Pessoa descobriram, ao contemplar as aventuras de um viver que brinca, luta, sangra, sorri…, que “ninguém decifra as origens, nem adivinha o fim.”
    Mas ambos têm nos ajudado a nos conhecermos melhor e vivermos de forma mais corajosa a experiência de lidar sem preconceitos, com as diferenças, fortalecendo os pertencimentos na perspectiva de constrir um outro final, um outro recomeço.
    Grata aos dois pelo incentivo, de sempre, aos sonhos que edificam e pelo que verdadeiramente são!
    Bjs
    Flávia

  • Flávia

    Não custa acreditar que o mundo pode seguir outros caminhos. Depende das ações humanas dos mais solidários.
    bjs
    antonio rezende

  • Carlos

    Bom retorno. A sociedade gira e podemos apostar em muitas coisas, desde que haja interesse coletivo. O divertimento faz parte da cultura, mas o empenho, por mais solidariedade, também.
    abs
    antonio paulo

  • allyson renan disse:

    é impressionante como o ser humano tem a capacidade de banalizar o útil e enaltecer o fútil.o mundo fervilha em notícias assustadoras sobre o oriente médio e apenas o que importa são as cotações do barril de petróleo.como a tv tem importância em decretar a crise e anúnciar o seu fim.como é genial o nosso nelson rodrigues que nos abriu os olhos para os perigos de uma mídia cruel e sensacionalista.

  • Alysson

    Infelizmente, o poder de manipulação é forte. Os enganados ocupam seus postos e ajudam na massificação. Perdemos muito com a impossibilidade de inventar outras aventuras criativas.
    abs
    antonio paulo

 

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