As celebrações instituem vitrines e comportamentos

Quem pode passar sem uma vitrine? Os mais resistentes se desviam e procuram negar a fantasia do consumo. A grande maioria não sossega, festeja a chegada das novidades e se deleita com os presentes. Ninguém é de ferro. O coração bate e prega sustos. Existem alegrias que buscam apagar os desacertos emocionais. Cada um se vira, inventa sua animação. A Páscoa acena para mais uma destacada celebração. Uma das mais ressaltada pela imprensa e anunciada nas TVs. Não faltam propagandas. As escolas estimulam desenhos que retratem coelho e ovos. O chocolate reina, derrete-se e ocupa sacolas imensas.

O comércio traz a movimentação renovada. Os produtos ganham lugares especiais. Verdadeiras cavernas pós-modernas, criadas por especialistas, com embalagens cheias de fascínios. O calor é grande, mas resta comer deliciosos chocolates e esperar as reações. Quem não pode, fica marginalizado ou se faz de duro. Desmerece a volúpia dos outros, porém não apaga o olhar apaixonado. Ser chato interrompe afeto e cultiva insatisfações. Comportamentos nada ativos na convivência familiar, condenados pelos mais eufóricos. A multiplicidade ganha espaço e concentra energias. Os cartões de crédito mostram utilidade e intimidade com as dívidas.

A Páscoa está relacionada com a ressurreição de Jesus Cristo. É inegável seu significado religioso. Muitos fazem orações especiais, promessas, meditam para encontrar a paz inteiror. Quando era criança não podia participar de certas brincadeiras na chamada sexta-feira santa. Havia uma melancolia provocada ou um sentimento de culpa insistente e mal resolvido. Os tempos mudaram. Os negócios são outros e os sentimentos se vestem de cores fortes e alimentam desejos intensos. A história não deixa de reafirmar memórias, contudo as mudanças consagram o efêmero e desmontam religiões rígidas. Quem esquece como o Natal também é celebrado?

Tudo corre, não há como compreender as palavras de Cristo tão fortes e, efetivamente, demolidoras para quem se envolve com egoísmos e desigualdades. No entanto, a linha reta não é espelho. Não custa repetir. O mundo dos objetos invade o cotidiano. Simboliza riquezas, amores, opções políticas. A fé não desapareceu, porém os conteúdos se ligam na coisificação da vida, na pressa, na dificuldade de contemplar. Golpe astucioso em quem se incomoda com os vazios e os cinismos. As descontinuidades fabricam atitudes que desagradam alguns e fazem o júbilo de outros. É a narrativa da vida. É preciso contá-la, avivá-la, redefinir valores, sepultar liturgias.

Seguir adiante é sempre um desafio. O inesperado mora em cada esquina  e as travessias possuem muitas curvas. No entanto, ninguém segue sem referências. As verdades são frágeis, os limites controlam e o tempo é companheiros das inquietações. As religiões estão no meio da história. Não são assombrações. O capitalismo, com suas acrobacias, continua respirando e atraindo espectadores. Observamos os anos passando, as mercadorias cercando as praças, as ruas, as amizades, as declarações de fidelidades. Quem mergulhar nos seus feitiços talvez esteja distante das indagações. Querem a festa, sem filosofias. Tornou-se um hábito transformar os domingos em andanças nos supermercados ou shoppings. O sol, lá fora, fica meio sem jeito…

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2 Comments »

 
  • DIÓGENES disse:

    É isso mesmo, hoje em dia a grande celebração cristã Pascoal perdeu e muito do seu real significado por causa do show de consumo de chocolates, a sociedade em boa parte se preocupa em se deleitar no vinho e no chocolate e o sentido da Semana Santa vai para o espaço, a verdade é a santa disenteria na segunda feira pós-páscoa.

    Uma boa Páscoa.
    Abraços.

  • Diógenes

    As festas ficam por conta das idas ao mercado de presentes. Boa Páscoa.
    abs
    antonio

 

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