As comunicações televisivas e as aventuras cotidianas

As comunicações estreitam laços e criam códigos de convivência. Transformam sociedades quando passam por mudanças rápidas. Deixam tradições sem lugares definidos, desenha sociabilidades renovadoras. Vivemos, numa época, carregada de invenções. As ligações diretas aumentam, esvaziando aqueles conceitos de distância. Eles parecem pertencer aos primórdios da cultura. Não temos tempo de refletir sobre o que faremos com tanta mudança. Somos levados. A crítica se desfaz, na ansiedade de não perder o ritmo. O estar bem informado dá privilégios, nem se discutir se há profundidade na acumulação das novidades.  Frequentar a vitrine sacode o teatro da vida.

Cada um procura seu investimento na busca da atualizar seu fogo comunicativo. O facebook produz contactos imediatos, permite intimidades e fabrica fantasias. Há deslumbramentos e exposição de poderes. O cenário do divertimento, da vaidade e do mascaramento da solidão se arma. É claro que, nem tudo,  é desperdício. Há aproximações consistentes, saberes importantes nos debates e descobertas de afetos animadores. Cair no niilismo apenas alimenta aquela opinião derrotista que torce pelo fim das tecnologias  e a volta de um paraíso que nunca existiu. Há relatividades significativas, porém as afirmações têm lugares nas andanças da vida.

Não podemos esquecer a televisão. Sua permanência garante relações sociais que agradam os jogos do mercado. Nelas, há espaços para sacudir propagandas que aprimoram seduções e delírios. Elas se movem de forma rápida e onipresente. Não há um horário comercial exclusivo como se falava antes. A televisão age como uma escola com pedagogias marcantes. Ousa ensinar como devemos seguir nossas aventuras, admitir certezas e firmar hábitos. Hipnotiza com uma magia especial. Segue as trilhas da persuasão.

Na convivência com a televisão, temos uma tendência para fixar um olhar passivo. A razão fica adormecida, muitas vezes, e os movimentos dos outros substituem nossas ações. Como sem querer entramos num conformismo persistente? Temos argumentações. Alegamos cansaço, entregamos o resto da força do corpo para espreguiçar os braços e desfazer-se dos malefícios inoportunos. É impressionante como Faustão, Datena, Xuxa, CQC, Pedro Bial entram nas nossas moradias com majestade. Às vezes, surgem incômodos, porém não faltam opções.

Transferimos as imagens para outras paisagens ou assuntos. Por que não um cochilo restaurador para suportar mais insistências e curtir certas ironias inteligentes? Quando estamos acompanhados, o boletim de ocorrência comanda registros inesperados. Os debates repercutem noticiários e a política assanha insatisfações e partidarismos. O deslocamento é outro, as pessoas se sentem em tribunais, justificam posições contra os governos ou defendem violência contra o chamado crime organizado.

Um público ruidoso e mínimo que ajuda a romper o conformismo ou proclamar verdades passageiras. Nem tudo é sonolência e a televisão motiva também rivalidades. Há  as nostalgias, as lembranças do passado que unem memórias. É uma celebração. Imagine uma partida de futebol e os torcedores comentando os lances, como se estivessem numa polêmica decisiva… O teatro da vida não cessa de receber enredos. Quem foge da tela colorida e decreta o fechamento dos canais? Quem se desliga dos cercos que exigem sonhos ou repetições que silenciam inquietudes?

PS: A partir de 29-4 a postagem dos textos novos não será mais diárias. Os dias escolhidos para nova programação são: domingo, terça, quinta e sábado. Não significa que nos outros dias o blog está fora do ar, mas reproduzindo o texto do dia anterior.

You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.

2 Comments »

 
 

Deixe uma resposta

XHTML: You can use these tags: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>