As estéticas do futebol: as danças dos corpos e as curvas da bola
Viver com arte, contemplando o belo, atrai boas energias. Nem todos possuem a mesma concepção de arte e nem de beleza. Mas não se pode negar o poder de sedução que cada coisa nos traz, no afeto do sublime. A indiferença à criatividade seria a morte da imaginação. Conformar-se com a mesmice,é o caminho mais banal da mediocridade.
A cultura seria outra, se a estética estivesse ausente. Companheira da sensibilidade, ajuda na formulação das utopias e envolve os sentimentos humanos, na construção das idas e vindas do seus desejos. A dimensão do belo testemunha que não basta a satisfação das necessidades primeiras, para a mudança dos projetos sociais e a animação da vontade.
Muitas obras de artistas são celebrações da estética, mas ela vai além. Não é teoria exclusiva de iniciados, sobreviventes de academias filosóficas. Nos mais simples gestos, ela se manifesta e atiça a solidariedade. É indefinível, pois se espalha, pelos eixos do que transcende. Costumamos, na racionalidade que nos persegue, traduzir o campo do conhecimento dentro dos limites da intelectualidade. Esquecemos a experiência cotidiana e a invenção de certas tradições milenares.
Um esporte, que se faz com a dança inusitada dos corpos, em torno de uma esfera fugidia e ousada, não pode se esconder na mesquinhez dos mercados mafiosos. Lembro-me que meu fascínio luminoso, pelo futebol, foi pela suas magias e pelo seus mistérios. Mesmo com as paixões clubísticas, nunca renunciei ao encanto que a geometria do jogo da bola deixa no olhar atento.
Na primeira vez, que fui ao estádio, assisti a um jogo singular. Era o encontro entre as seleções de Pernambuco e de São Paulo. Não o havia desfilar das séries, os negócios , pouco claros, que vitimam os mais inocentes. Juntos aos adultos, deslumbrava-me com a multidão inquieta e com os passes precisos dos craques. Na seleção paulista, estava a base do Santos de Pelé. Não se falava de mídia, nem de retrancas. O gol era o alvo do grito e da alegria.
As reviravoltas da história acontecem. Fica confuso afirmar a supremacia de um tempo sobre outro. Mas a velocidade do consumismo, a fabricação de ídolos passageiros, o futebol como lugar de barganhas obscuras tiram a emoção. Parece que está tudo contaminado pelo lucro. As camisas dos times são vitrines desbotadas de vibração. Sugerem placas de anúncio.
Não vamos consolidar lamúrias, nem riscar a idéia de viver a vida como uma obra de arte. Embaraçados, com tantas promessas eleitorais, temos mais é que sepultar o cinismo. O passado não se extingue, porque o ritmo do mundo, agora, é outro. Ele não é um espelho triturado, encontrado nos lixões urbanos.
A leveza dança da vida é do tamanho do riso meigo de uma criança. A estética é mais que um pedaço de papel , uma imagem de registros renovadores, um tratado rebuscado sobre as figuras da moda. A estética é a consolidação dos espaços da ética, envolvida com o coletivo. Essa é trilha que anuncia Matisse, esse sonho que não se esgota nas maciez dos travesseiros.
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