As frágeis vestimentas do convívio social

Provoca indagações o conteúdo efêmero das relações sociais. Não é possível viver sem o outro, dividindo sentimentos e trabalhos, mas a sociedade é competitiva e individualista. Não se afasta do conflito e fermenta dissidências. As tensões são cotidianas, colocam dúvidas nos direitos e atinge a sociabilidade. Se os interesses e a violência ocupam lugares predominantes, o afeto perde espaço. Procura-se o que é útil, cultiva-se o valor de troca. Os lazeres nem sempre anunciam descontrações. Há uma programação geral articulada. Nem todos a enxergam. Certos feriados prometem descanso, mas as propagandas determinam escolhas, indicam comportamentos. Quem não as segue sente-se marginalizado, pois não consegue visualizar alternativas.

A massificação é medonha. Existem exceções, olhares críticos, desconfianças acesas. Vale, contudo, a ação da maioria. Ela tem força, compra e vende, numa animação constante. Será que tudo é mesmo uma festa numa sociedade em que a manipuilação transita sem cerimônia? A mídia reforça a uniformização da cultura e as fantasias de conformismo. E a atual dificuldade do capitalismo? Por que se restringir às análises ao econômico? Como andam a Grécia, a Espanha, a Itália nas relações que implicam sentimentos e frustrações? Quais são agora os discursos dos antigos colonizadores e  as astúcias dos senhores neoliberais?

Governar é fabricar mecanismo de controles. Os políticos profissionais sabem bem que é preciso impor limites, porém sem exagerar,  apresentando resultados, eficiências, progressos.Convencer e seduzir são verbos conjugados pelos poderes que se espalham nos territórios da cultura. Ninguém, atualmente, quer ser rotulado de autoritário ou conservador. Talvez, uma forma de esvaziar a éticas e anular a visibilidade das diferenças. No mundo globalizado, as repercussões dos atos multiplicam-se. Estamos numa ladeia habitada por bilhões de pessoas. Não é um sonho. Ligue a TV e mergulhe no oceano colorido e turbulento das informações. Cuidado para não ser captado por algum Big Brother intolerante.

Defrontar-se, então, com os paradoxos não é surpreendente. Quebrar expectativas, ser engando por promessas democráticas faz parte parte do espetáculo das gestões dominantes centralizadoras das verdades. A razão cínica se propaga e garante a fabricação de justificativas que trazem sossego e evitam debates. Apesar de tudo, a objetividade é valorizada, a exatidão enaltecida, as máscaras enfeitiçadas, a rapidez leva a consegração de misturas inusitadas. Parece não haver mentiras quando o jogo favorece a quem possui a hegemonia. Elas penetram nos julgamentos para diminuir impactos e suspeitas. Por isso, as instituições sofrem abalos de credibilidade.

As vestimentas encontram-se nas vitrines. Não me refiro aos shoppings ou às lojas de grande apelo popular. As vitrines tomam conta das esquinas, das salas de conversas, dos bares sofisticados, do boteco desorganizado, das celebrações familiares. Cada um narra seu drama. A vida transforma-se numa encenação de fôlego esquisito. Muitos atores, malabarismos, circos com lonas rasgadas, porém o descuido com a aparência é um pecado capital. Há que não se reconheça nos espelhos mais sinceros e negue a razão do seu enredo. É difícil configurar a geometria do caminho do encontro com a imagem que silencie. Mais do que a viagem, a fotografia significa a lembrança cortejada.

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