Narrativas, vidas , ficções, tempos

A leitura da ficção nos traz imagens que, muitas vezes, não observamos no cotidiano. Sentimos a imaginação solta, divagamos, encontramos como abrir portas, aparentemente, fechadas. Temos a capacidade da invenção. Ela move a cultura. Vamos buscar na memória desencontros que nos ajudam a compreender situações recentes. O tempo passa, porém, o difícil é organizá-lo. A história não pode ser construída sem conceituá-lo. Falam no eterno retorno, no progresso, nos acontecimentos fundamentais, nas utopias… Não há uma escolha única, as teorias se encantam com as diversidades temporais e os intelectuais gostam de viajar pelos abismos.

No mundo atual, a movimentação é constante. Muitos detalhes, as cidade repletas de contrastes, a busca de visualizar figuras estranhas e montar conversas para falar das especificidades do humano. Não precisa ser adepto de metafísicas para se infiltrar em reflexões e desconfiar das certezas que nos impõem. As experiências decifram impasses e as verdades possuem fraquezas. Dançam com a velocidade pós-moderna, longe dos dogmas medievais e alucinadas pelas comunicações digitais. Narrar a vida é um obrigação. O próprio corpo silencia, por vezes. e esconde embates e desconfortos. As indiferenças de alguns persistem, porém os que também cultivam ruídos e singularidades.

É escorregadio o território da ficção. Lendo Kafka encontramos a burocracia, o inesperado no século XX. No entanto, as leituras do seu livro Metamorfose nos ajudam a caminhar pelos labirintos imaginários do cotidiano atual. Os livros têm suas datas e suas transcendências. O que dizer dos poemas de Neruda, das especulações de Saramago, da estética de Guimarães Rosa? Tudo se soma e se completa, multiplica as sabedorias. A ficção sacode o avesso, mas o dia a dia não parece uma grande mentira diante dos desmantelos que não cessam? Portanto, as narrativas trazem a mistura, não adianta querer enquadramentos fixos. E Macondo de García Márquez não é uma bela epopeia que nos lembra de Adão e Eva? Não se afaste da imaginação. Ela veste futuros.

Há a vontade de esclarecer as contradições, desvendar as circunstâncias, pensar numa transparência absoluta. Vivemos na incompletude, as palavras agarram-se em metáforas que vão e voltam. Muitas vezes, diante das máquinas cheias de códigos contemporâneos nos sentimos estranhos. Visitamos o passado, como num sonho levado por um tapête mágico. As astúcias de Ulisses não se entrelaçam com certas artimanhas do presente? As arquiteturas das fronteiras não oferecem medidas inabaláveis. Somos muitos. Realidades, fantasias, infernos, descontroles.

Narramos. Há quem estude e classifique as narrativas. Há quem prefira deixar que elas fluam nem adjetivos e censuras. É impossível viver e se desfazer da vida sem testemunhos. Um olhar revela-se numa tarde de conversas. Curtimos as chamadas descobertas. Surgem, de repente, discursos redentores. As verdades se apresentam como detentoras de razões inesgotáveis Precisamos de máscaras e de enganos. Há pesos que incomodam e tornam o estar no mundo insuportável. Narramos, também, para fermentar fugas e abraçar afetos que disfarçam as amarguras. Nem sempre, distinguimos os sinais dos rostos e as suas máscaras. Os espelhos atrapalham, pedem perdão pelos vestígios que anunciam os trabalhos do tempo.

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