As pequenas grandes tardes dos tricolores no Arruda

 

Criou-se o hábito de contar as histórias, priorizando o extraordinário. Exaltam-se as guerras mundiais, as derrubadas de impérios, as renovações tecnológicas. O cotidiano é menosprezado. As pequenas coisas jogadas no lixo. O importante é brilhar, ocupar espaços, parecer um gigante. Os livros estão cheios de aventuras ditas maravilhosas, feitas por uma minoria de pessoas escolhidas pelo destino.

Nem tudo permanece. Mesmo nas histórias, mais acadêmicas, os rumos são outros. Não é mais a grande política que tem lugar inquestionável.O antes banal passou para outras páginas e pessoas, consideradas simples, colocam suas lutas e conquistas. Cabem o sonho e as rebeldias. A cultura não é símbolo da erudição de privilegiados. É o agir, o sentir, o fazer dos indivíduos de todas as épocas.

Tudo isso, para lembrar os tricolores. Não todos,evidentemente. A referência, aqui, é a torcida do Santa Cruz, cheia de sofrimentos, porém com a alma se balaçando para reverter sua situação-limite, como diria o filósofo Sartre. Quem esquece os mais de 50 mil espectadores presentes no 4×3 contra o Guarany de Sobral? Foi um espetáculo marcante, incorporado às memórias da cidade. Um dia com registros de muita emoção e encantamento.

Infelizmente, o time não deu uma resposta merecida. As esperanças quebraram-se com rapidez. A Cobral Coral não saiu do seu buraco, mas mostrou o que possui de mais valioso: sua torcida corajosa e sem desespero. Domingo passado, aconteceu outra partida também histórica. Não havia a tensão anterior. Não se tratava da maldita série D, nem tampouco uma multidão invadiu o Arruda. Ninguém é de ferro, nem a grana anda solta pelos botecos e pelas esquinas.

Era a estreia do Santa, na Copa de Pernambuco, uma competição doméstica e sem eco nacional algum. Lá estavam 550 vibradores, felizes com os quatro gols feitos pela equipe. Todos ligados na possibilidade de ganhar mais título e não guardar a tristeza no coração como emblema. É isso. Vale o envolvimento.Falta o estímulo de outras épocas, quando o estádio era o lugar das comemorações grandiosas. O desconforto e a desconfiança permanecem, mesmo com uma nova eleição anunciada e promessas de candidatos.

O Santa Cruz necessita livrar-se dos seus profetas. Cair no concreto da responsabilidade. Dificuldades rondam o futebol brasileiro. O Flamengo foi campeão, o ano passado, do Brasileirão e se encontra ameaçado, em 2010, de afundar de vez. São contradições que aumentam as perplexidades e assinalam mistérios e suspeitas. O Juventude do Rio Grande do Sul enfrenta travessias sinuosas. Sobram exemplos.

Cada um constrói sua trajetória. Os planejamentos não conseguem se firmar. Inventa-se um diálogo de sorte e azar. Os clubes não são propriedades privadas de grupos inquestionáveis. São patrimônios coletivos. A manipulação persiste. Falências são anunciadas e muitos dirigentes recebem críticas pelo uso desnorteado das  verbas das contratações.A ruina dói no coração de muita gente que se integra na dança das três cores. O Arrudão não foi feito para passar os domingos vazios. É cenário de festa e solidariedade.

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2 Comments »

 
  • Natália Barros disse:

    Antonio Paulo,
    não sei se sabe, mas, o senhor da foto é meu colega Rinaldo, servidor do Colégio de Aplicação. Atualmente tenho descoberto que o estádio é o lugar de muitos e inesperados encontros.
    Beijocas

  • Natália

    Reamente é uma grande festa. Gostei da visita, divulgue e volte outrasvezes.
    bj
    antonio paulo

 

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