As travessias históricas do poder: diversidades
O poder não é solitário. Veste-se de relações. Possui seus dramas, mas avança pelo cotidiano. Não há sociedade sem choques, sobretudo de interesses e desejos de vinganças. Criam-se utopias, prometem-se espaços de harmonias, mas as competições continuam deixando suas marcas. Nem toda relação de poder significa a saliência do mal. Na política, há quem jogue fora corrupções e arquitete projetos coletivos. Portanto, a complexidade existe, porque os valores se costuram e as tradições não são absolutas. Não há como remover instabilidades num mundo de desconfortos.
Lembre-se de Luís XIV. Pense na extensão do império romano, nas ambições de Hitler, nas astúcias de Vargas, nos colonizadores portugueses, nos exércitos dos países agressivos. Não faltam exemplos. Se há tempos em que a força física prevalece, em outros as sofisticações disfarçam violências. Os anúncios consumistas divulgam fascínios que mantêm relações de poder e trazem euforias fabricadas por especialistas. Analise as redes socais. Não se empolgue com certas generosidades ou declarações ditas neutras. Há quem puxe plateias, conheça as ondas do mercado e arme arapucas. O fascismo não se foi, apenas se redesenha nas suas invasões.
As relações sociais indicam que as multiplicidades aumentam. No entanto, a massificação banaliza e celebra a idiotização das pessoas. A tecnologia desfez preconceitos, mas também firmou manipulações. Nem todos conseguem estabelecer juízos críticos. Quem concentra poderes viaja por pântanos e agita fanatismos. Daí, as grandes crises, a fragilização das utopias, a força da grana e do individualismo. A política se estrutura, muitas vezes, para consagrar o imediato e consolidar as minorias. É preciso estratégia e se armar argumentos astuciosos. Não é fácil assegurar dominações.
Os significados mudam para mascarar permanências. Há golpes com novas formas de iludir. Sobram teorias, a sociedade se polariza, se formam redes de poder. As amarguras ameaçam, os desamparos atingem os afetos, as relações de poder buscam configurações e identidades. Tudo se inquieta, ma os oportunismos estão presentes. Não esqueça que somos animais. Falam de racionalidades, de consensos, de imaginários. Muitas divagações estão acompanhadas de sofrimentos. O barco do poder pesa e nega ajuda aos mais próximos, quando exclui e massacra.
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E haja utopias. Individuais ou coletivas. E haja resposta para tudo, de maneira totalizante. Ainda vivemos sob forte influência do dualismo “ou isto ou aquilo” e esquecemos que entre o isto e o aquilo existem diversas camadas, muitas delas, bastante tênues… entretanto, a única verdade que vejo é a da coexistência humanizada. Não vejo outra ideia que me convença. Aliás, coexistência eco-humanizada. As religiões são grandes culpadas, na medida em que institucionalizam modelos de vida. Os homens criam deuses que passam a determinar o certo e o errado. Os homens acreditam neles. Tornam-se reais. Os homens tornam-se porta-vozes destes deuses. E os homens acreditam nos porta-vozes. Em vez do amor, a lei. Em vez do perdão, punição. Em vez do acolhimento, expulsão. Homens repetem a expulsão do Éden e ainda colocam o peso do pecado sob as costas de outros homens. O diabo, o que divide, é o próprio homem. Dividir para dominar. Mais do que organizar, hierarquias servem para controlar. Há um poder em cada lugar. E a crença de que este poder é totalmente necessário faz com que se aceite o controle. Controle é ausência de liberdade e autonomia. E não há controle maior do que através de ideias, sejam quais forem os prismas. E estamos em tempos de fundamentalismos. Criticamos o fundamentalismo islâmico combatendo-o com o fundamentalismo cristão. Renegamos a filosofia e a arte em troca da força. E a força não tem beleza. Vivemos uma ditadura da fealdade.