Birdman: o espelho não se ausenta

 

Na agonia de um presente cheio de complicações, existe quem queira jogar fora o passado. Tenta bloquear a memória. Aparecem sinais de transtorno. O tempo pede diálogo, faz escolhas, não pode morrer na inércia. Quem vive sem a mistura das emoções? Quem apaga sentimentos e acredita que há autenticidades puras? O humano não se completa na perfeição, no  entanto não consegue se afastar das idealizações. Preserva mitos, espalha fantasias, inventa o par genial. Nos afetos, as conspirações são intensas: as aproximações não evitam os desertos solitários.

O filme Birdman trouxe polêmicas. Muitos não toleraram as questões colocadas e resolveram correr da sala de projeção. A tela é também um espelho mágico. Ganhou um prêmio, porém não inibiu as críticas circulantes. Fiquei perplexo com os desencontros. Fiz o melhor teste. Fui  ao cinema e esperei as imagens. Será que aguentaria? Qual a minha direção ou inquietude? Senti  que o ritmo da história era lento, os conflitos se acirravam, o teatro tomava conta do espaço. O corredor parecia um labirinto. Havia desgastes pessoais contínuos. Anjos e demônios ampliavam as identidade sempre tardias.

Tudo isso acende incômodos. Não há aventuras, amores extremos, risos fáceis. Muita tensão que invade sentimentos e mostra que o passado configura fantasmas inesperados. A busca do sucesso se agarra no coração. Confunde e atormenta. Mas as ilusões suavizam e a distância entre o real e o imaginário talvez seja um absurdo. É difícil aceitar a melancolia ou que a vida tem superfícies esburacadas. Quem pode esquecer de almejar o paraíso e se assustar com a possibilidade do juízo final? Qual a extensão do voo e da sorte? E a cultura significa permanências ou sutilezas anônimas?

O filme perturba, porque atiça perguntas e forma ansiedades. Ninguém se define e o desfecho feliz é uma mentira. As cenas não buscam estéticas comuns. Entram nas subjetividades assombrando memórias. Não me tornei um inimigo dos argumentos apresentados pelo filme. Dei uma mergulhada. A complexidade das histórias são importantes, pois construímos recomeços e os exemplos ajudam a respirar atmosferas inusitadas. As frustrações cabem no circo da vida. Cada um cuidando dos seus limites, não deixa de sonhar com os deuses. O que fazer? A arte e a vida dançando nas ambições e nas amarguras.

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7 Comments »

 
  • Anuska Salsa disse:

    Até comecei,mas vou me conter e ler depois que assistir ao filme.Acho que entenderei melhor.abçs

  • Alexandre Melo disse:

    Ainda não assisti Birdman, muitos falaram positivamente sobre o longa. Espero gostar. Ótima reflexão!
    abs

  • Alexandre

    Acho um bom filme.Polemiza com a existência.
    abs
    antonio

  • Anuska
    Um bom filme.
    abs
    antonio

  • Anuska
    Um bom filme.
    abs
    antonio

  • DIÓGENES disse:

    Assisti. Não gostei, achei um filme que se prendeu muito a Broadway, muito ao cotidiano daquele espaço teatral, as dissidências da produção de um espetáculo entre outros aspectos apresentados durante o longa. Vi outras produções deste ano que traziam perspectivas e reflexões mais contundentes. O Michel Keaton, protagonista da história, não convenceu é tanto que o da Teoria do Tudo levou o Oscar de melhor ator. O problema é que acho que fiquei preso na comparação com os outros longas concorrentes e a questão técnica e estrutural do filme Birdman.

  • Diógenes

    Cada um sente o filme da sua maneira e buscando respostas. É um olhar crítico, mas é bom relacioná-lo com os tempos presentes..
    abs
    antonio

 

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