Esquisito
Ali. Dobre a primeira esquina à direita e encontrará uma praça. Não se assombre com as luzes apagadas. Existe falta de cuidado. A praça segue servindo de lugar de descanso e de manobras inesperadas. Há pessoas que não saem dos bancos sem fazer uma longa meditação. É preciso assistir à natureza. As árvores não se entregam e são companheiras dos namorados mais pacientes, mesmo que os ruídos de automóveis incomodem. Não ligue. Foque naquilo que atrai.
A praça pode parecer melancólica. Há quem não goste de ficar parado. Corridas mostram que as pressas também se incorporam aos ânimos. Ninguém sabe os espaços mais dignos num mundo cheio de máquinas e oportunismos. Portanto, não estranhe que haja mendigos ou cachorros bem cuidados, perfumados pelos donos. Tudo é esquisito se você buscar uma análise profunda. A humanidade inventa maravilhas, mas não foge das ruínas. Uma confusão incessante. Uma roda-gigante sem desenho definido.
Não faltam contradições, desde os tempos do paraíso. Estupidez, desmantelos, violências habitam lugares anônimos. Se as maiorias se encantam com os consumos desproporcionais, pense que há grupos que cultivam o afeto e desfazem as intrigas. Os vestígios de solidariedade alimentam desejos que inquietam em instantes que lembram passados. A praça poderia ser um paraíso? Talvez. Merece olhares contemplativos. No entanto, as paradas de ônibus assustam quem trabalha e está atrasado. Tiram a poesia e atiçam os intolerantes.
Sei que os danos são frequentes, pois os espaços públicos se deterioram. Não perco o equilíbrio, nem julgo de forma definitiva. As cidades se alargam e sacodem desigualdades. Há lixo e luxos. As medidas arbitrárias vestem políticas populistas. Como se infantilizam fanáticos delirantes! Negar que a praça me traz uma passagem de contraste seria uma loucura. É esquisito que a vida desfile no asfalto quente e que demônios urbanos façam das praças um canto comum e inútil. A aridez faz parte da história. Alguém conhece seu caminho sem curva?
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