Kundera, a estética,o mundo: ” a vida não está em seu lugar”

Havia muitas previsões sobre o futuro, depois que a ciência ganhou espaços. Falava-se num progresso com ordem e felicidade. Voltaríamos ao paraíso sem pecado. Comeríamos tudo , sem regras, sem opressões. Somos poderosos, diziam os mais entusiastas. Nem tudo aconteceu com se previa e as relações estão tensas. Será que deixaremos de ser animais sociais? A guerra se sofistica. A história volta, visita o passado e namora com preconceitos. O tumulto perturba a reflexão. Poucos se salvam, o pão e o circo se apresentam seduzindo. Imagine como serão os celulares. Imagine as grandes avenidas, as redes sociais, as televisões. Sobreviveremos?

Analise as ficções, consultem os poetas, observe o cansaço das palavras e o atrevimento dos feitiços.No mínimo, inventaremos novos alfabetos. É preciso aprender rapidamente. Mexer as teclas. Desmanchar o sono. Ficar aceso, gostar da surpresa, brincar com descartável, sonhar com templos sem deuses e repletos de máquinas. Não estou querendo assustar, nem ficar teclando inutilmente. O espanto é grande e ele se espalha. Atinge territórios isolados que antes nada sabiam da pressa e da grana. Custa acreditar que a globalização administre seus desacertos. Sobram prazeres, mas sobram riscos. Há pessoas fascinadas pela família, tradição, propriedade. Há juízes furiosos,sem cultivar a serenidade.

O horror deslumbra, muitos pedem suspenses. desconhecem o belo, estimulam neuroses radicais.Destaco as acrobacias políticas. Elas são infernais. Que saudades dos circos de lona! Os registros são outros, Cunha desfila com sua agressividade, Moro é louvado, Serra traz julgamentos sobre as relações exteriores. Onde fica o espaço da crítica? A verdade é histórica. Existem relatividades. Não se trata apenas disso. É que a mentira virou uma epidemia, perdeu seu humor e sua conexão. Amplia-se. O cerco é rígido, porque uma lama invisível toca nossos pés. Caminhamos trôpegos e nem notamos. Estamos no meio do jogo e não há intervalo.

Os mais fanáticos inventam bonecos, riem,se distraem com o sufoco do outro. Será que são resquícios do pecado original?Talvez, nunca vejamos a nudez. Os mantos que cobrem a sociedade estão poluídos e esfarrapados. Não dá para contemplar nada com sossego. Somos escravos das vitrines, do que é efêmero, dos abraços vazios, dos perfumes vagabundos. Muitas extravagâncias, conhecimentos pesados, diplomas com valor de troca, escola vendendo mercadorias. Freud tomou um susto com a primeira mundial. Nietzsche não disfarçava sua crítica aos valores do mundo ocidental. Benjamim temia que tudo se desfizesse.

Parece que os rebeldes de 1968 não se enganaram:” a vida não está em seu lugar”. Leia Milan Kundera(ele escreveu um livro com esse título) e reflita, sem perder a estética. Ela é fundamental. Os personagens do livro de Kundera se movem em busca de algo secreto e indescritível. Sentem uma incompletude permanente. Desenham possibilidades de salvação, aparecem com fantasias do passado, mergulham em revoluções. A escrita testemunha o humano atormentado. Mães, pais, amantes não se aproximam de Prometeu. Querem ser Narciso. Há uma imprecisão, uma fuga sem destino, um desejo de ultrapassar os limites. O azul procura proteger suas cabeças, porém eles se sentem confusos com o significado da cores.

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