Lula, o refazer da imagem e a sociedade do espetáculo

As imagens mudam as representações da vida. Elas são poderosas. Confundem, pois têm um grande poder de disfarce. Muito já se falou do simulacro, das diferenças entre a ficção e o real. Há teorias inesgotáveis. Parece que vivemos num mundo que não é nosso. Será  que há uma transcendência que nos envolve de forma invisível? Quem não cuida da imagem pode ser atropelado pelas exigências de uma sociedade que adora plumas e paetês. A medida de tudo isso é uma incógnita. Existem saberes que se dedicam a buscar interpretações para certas expectativas. As mudanças nas imagens trazem avaliações na sociabilidade, desmancham futuros, desfazem famosos. Lembre-se de Amy Winehouse.

Os esconderijos são muitos. Estamos na sociedade do espetáculo. Não tenho dúvida. A sedutora ascensão social atravessa as relações de poder e organiza o espetáculo que firma uma estratégia de vitória.Não me restrinjo aos grandes shows musicais, as exibições de de Madona, as performances de Ivete Sangalo, as exibições do Barcelona. É importante observar a velocidade dos julgamentos. Kadafi recebia elogios de chefes políticos prestigiados. Era exótico, surpreendente, hoje se tornou um facínora. Quando a máscara caiu, quem guardou a lucidez confirmou o autoritatismo de uma figura, no mínimo, atordoada. É o jogo dos interesses. Ele fragmenta, desfigura, seculariza o sagrado.

Lula se encontra numa das encruzilhadas da vida. Houve desencontros fortes na  saúde. Ele é um homem público, por isso cuida da imagem com sutileza. Está longe de ser só aquele sindicalista das greves monumentais contra as ditaduras. Fundador do PT, combatente das desigualdade socais, liderança na política internacional. Ex-presidente da República, com popularidade marcante e indiscutível. Agora, se apresenta sem a barba e o cabelo que lhe acompanharam por décadas. Lula enfrenta um câncer, um tratamento rigoroso que assombra, provoca medos. Deslocamentos profundos no seu estar-no-mundo, nas suas peregrinações de viajante, nas alianças políticas que traçou. A doença lhe pede recolhimento.

A vida transforma o espetáculo, o espetáculo transforma a vida. A travessia de Lula buscará outros atalhos, negociará com surpresas inesperadas, conversará com a saúde cotidianamente. Não são estranhas, para ele, essas idas e vindas das manobras da propaganda, do mercado de opiniões. Nem sempre é possível manter a transparência. Há escorregões.O território da incerteza  dialoga com limites e com acenos da morte e da redenção. Portanto, as cogitações se espalham, nos silêncios e nos ruídos. Lula não fica oculto, nem conseguiria. A sociedade do espetáculo quando escolhe seus atores, também  os aprisiona.

Não há como dizer quando uma sucessão de eventos chegou ao fim, ou em que ponto termina: a história humana permanece obstinadamente incompleta e a condição humana subdeterminada (Zygmunt Bauman). As fantasias não se ausentam da história de cada um, porque as contradições lembram a personagem do livro Metamorfose de Kafka. Lula convive com entraves que estão amarrados à incompletude que teimamos em desconhecer. As eternidades possuem formas de ornamentos. Quem as compreende não superestima a voracidade do espetáculo. Ele compõe o reino das mercadorias. Coisifica, adoece, desmantela. Ninguém pode se abraçar com certezas, num mundo de espelhos que só registram imagens.

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