Não perca o ritmo da narrativa histórica
É importante visitar as fontes. O historiador nunca deve desprezá-las. Visitar o passado traz um diálogo reflexivo com as dúvidas do presente. Esquecimentos podem ser fatais e o jogo da vida pede movimento. O historiador cuida das incertezas e não deve se ligar nas tentativas de determinismo. Observe o cotidiano. Não há uma linearidade, aparecem surpresas e a melancolia brinca com certos disfarces. Há muitos mundos. A narrativa busca os ritmos dos sujeitos e os riscos das frustrações. A história é invenção e a palavra,sua companheira. Daí, a literatura transformar concepções apáticas de historiadores adormecidas nas fontes.
A reflexão anima o conhecimento de autores, mas é fundamental não criar idolatrias. Há escolhas que fogem do lugar comum. Ninguém consegue resumir tudo ou fabricar uma síntese definitiva. Foucault trouxe temáticas e pesquisas que abalaram estruturas consagradas. As contribuições de Guattari, Castoriadis, Baudrillard, Certeau, Benjamin também modificaram olhares já desbotadas. Não menospreze as questões políticas de maio de 1968. Viver e contar se entrelaçam. Não é a academia que tem respostas supremas ou altares insuperáveis. Os acasos existem para tumultuar quem se sente dono de verdades e amantes de ídolos.
Somos muita coisa que vem dos tempos vividos. Nem percebemos que elegemos rigores,porque sofremos perseguições ou fomos destratados. Há saltos, porém as permanências trocam de cores para confundir. Portanto, é bom não apagar as curvas. Tropeços surgem, escorregões desfazem caminhos e a aprendizagem é contínua. Acumular saberes é um desafio, desde que nos situemos nas armadilhas das diferenças. Paul Auster, no seu último romance, enfrentou com ousadia a multiplicidade da história. Alguns o criticam, pedem regras, consagram gramáticas apodrecidas. A narrativa histórica quando se distancia dos argumentos positivistas se aproxima da complexidade da cultura.
Escrever é uma ousadia afetiva, Quem se descuida da força poética das palavras se distrai. Perdeu-se a musicalidade das narrativas em nome das fontes? Dizem. A história deve alargar suas aventuras, não fechar o cerco em autores ditos messiânicos. Descartes já se foi, pertenceu a uma época e teve importância para modernidade ocidental. Marx mostrou a crueldade do capitalismo.As formas se atrevem a conviver com outras geometrias. Gabriel, Calvino, Paz, Mia ajudam na articulação do pensamento, conjugando a lucidez com o lúdico. A arte testemunha a possibilidade, inverte expectativas. A vastidão de perguntas existe e não se afasta. A viagem de Ulisses foi uma tentativa de respondê-las, mesmo que as sereias dessem ritmos às suas agonias. As sereias não morreram, os mares são infinitos.
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Boa tarde professor! Muito interessante. Um modo de escrever a História que pulsa.
Professor, boa tarde! Muito interessante seu texto sobre a narrativa histórica. Uma construção de uma possibilidade que pulsa.