Nas entrelinhas das expectativas e dos sentimentos

A animação preserva seus espaços. Não fica inibida com os desgovernos. Há muita gente se preparando para o chamado ano político. Serão disputas acirradas, com grana circulando e busca de monopólios. Não dá para decifrar o fim de tudo. Podem acontecer reviravoltas, porém as ambições mostram que os impasses trazem um cenário de dificuldade que, talvez, possam ser superadas. A medida de cada um é um desafio. Há quem se afaste de qualquer especulação. A animação não evita pessimismo e a permanência de conservadorismo.

Se, no ano 2013, muitas manifestações se sucederam, o ano de 2014 reavivará incógnitas. O Brasil recebe a Copa do Mundo. Movimento internacional em ação, atingindo todos continentes. O esporte tornou-se um espetáculo sutil nas suas tecnologias. Produz imagens que encantam e envolve  patrocínios milionários. Não é mais aquela diversão acanhada, restrita a grupos minoritários. O futebol, sobretudo, possui um lugar especial.

Nas corridas políticas, a sede pelos privilégios não cessa. A impressa se arma com notícias, os partidos preparam planos de ataque, as grandes empresas apostam em bons negócios. A ética está meio esquecida, pois o mundo do pragmatismo  se assanha e convence a maioria. Os julgamentos misturam temas e a sociedade de consumo recebe suas condenações, contudo se reinventa com rapidez. Quem não gosta de estender-se no reino dos objetos?

Quando a modernidade lançou seus paradigmas costumava-se exaltar a liberdade e apostar que a competição podia salvar a sociedade. Nem tudo correspondeu  às expectativas. Nas discussões teóricas, as discordâncias já expressavam conflitos que prática afirmavam violências. Pense nas críticas de Nietzsche, no socialismo de Gramsci, no liberalismo de Locke. Muitos dogmas religiosos se apagaram, pensamentos ditos progressistas foram demolidos, no entanto a força do utilitarismo está presente. Experimente decifrar o que dizem as propagandas?

A modernidade concretizou dominações, abalou culturas, formalizou acordos mesquinhos. Serviu para justificar opressões, não fugiu da ambiguidade. Existem suspeitas e desconfianças que não se vão da sociedade. A solidariedade não desapareceu. Conseguem substituí-la por filantropias perigosas que adormecem possibilidades de rebeldia. Quem se articula com os donos do poder não dispensa esconderijos, nem tampouco tem rostos definidos. Engana e disfarça.

Os utilitarismos, portanto, estão soltos no mundo. Acumular, concentrar, desenvolver descortinam-se como palavras mágicas. As razões para desenhar projetos futuros redentores são muitas. O desprezo pelo passado pode rasgar memórias e negar a profundidade de certas tradições. Nessas idas e vindas, repletas de incerteza, os territórios da ambiguidade não deixam de se fertilizar. Será que a história é a sombra de um destino que desmanchará sentimentos?

Por enquanto, o cotidiano se enfeita de informações e assume velocidades assustadoras. Quem sobrevive e aprende a respirar com elegância celebra seu bem-estar. Quem está na fila para conseguir alguma coisa, às vezes, acomoda-se nas suas orações. Se as insatisfações continuam não adianta que se interiorizem e se transformem em neuroses depressivas. Pressionar quem se apossa dos privilégios é sempre um ruído  ativo e não, apenas, uma lamentação perdida. Os tropeços não são as frustrações eternizadas, mas tentativas.

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2 Comments »

 
  • Elânia Nunes disse:

    “A ética está meio esquecida, pois o mundo do pragmatismo se assanha e convence a maioria”.

    A ética não combina com o mundo das complexidades. Quem ainda a pratica, se torna um estranho no ninho.

  • Elãnia

    A falta de solidariedade termina impedindo que a ética ganhe espaço. Muita competição destrói o afeto.
    abs
    antonio

 

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