No reino do consumo o desejo se solta e engana
Não poderia haver um capitalismo sem essa sede de consumo. As mercadorias estão expostas esperando seus companheiros. Não é uma relação sem afeto. Os mecanismos de transferência dizem muito dessa busca cotidiana por objetos. Visitam-se os shoppings como grandes templos. Lá se ora profanamente, mas se sente o desejo de salvação. Quem sabe um bom computador traga harmonia e desfaça a ansiedade? Quem sabe se uma TV não surpreenda com suas imagens a mediocridade das conversas caseiras ? Tudo em nome de uma tecnologia que ganha altares. Há feitiço, encanto, pouca reflexão. Desde que a grana ande solta, o consumismo faz história, marca um tempo, distrai angústias.
Existe o gosto do efêmero na compra. No mundo da novidades, o desgaste é grande. Aquilo que parecia uma novidade termina virando sucata. O vaivém compõe o jogo. O descartável sintetiza desejos, lembra espelhos que se renovam, mas que não conseguem mudar o desenho das imagens. O lazer é programado pelas liquidações das lojas poderosas. Todos ficam atentos às ofertas. É o momento, pois na Europa as perdas continuam crescentes, onde antes o consumo prosperava. Para quem servem as lições da história? É uma pergunta que nos persegue. Quando compreenderemos os diálogos entre passado e presente? Para muitos é melhor a atmosfera do imediato.
O sucesso da inauguração de shoppings despertam perplexidades. Os horários, o trânsito, os sorrisos, os desesperos ficam submersos por fantasias. É inevitável. A mídia está firme na propagação de cada festejo. Empresários se transformam em promotores do desenvolvimento sob a guarda de políticos incansáveis nos elogios. Não é o ídolo que balança a multidão de forma quase delirante, porém as vitrines ornamentadas, as prestações mínimas e extensas. Nem tudo é tão maravilhoso, as dívidas crescem, as disputas com os vizinhos atiçam invejas. Vale a urgência de uma felicidade vendida?
O capitalismo redefine-se quando atinge o sentimento das pessoas. Há trocas de hábitos. Somos governados, muitas vezes, por bens materiais que adquirimos. Pouco olhamos para quem se aproxima. O fascínio é pela acumulação. Uma lógica que esfarrapa sociabilidades, porém sustenta planejamentos econômicos. Não é à toa que a hegemonia do consumo é contagiante. Há quem a condene. Ela distorce as necessidades. Cria o supérfluo, influencia na organização da família, encurrala rebeldias. Não se consome, apenas, nas lojas especializadas. O pior que essa lógica penetra no cotidiano, mecaniza, sustenta mesmices.
As perspectivas são sombrias, porque as utopias se precipitam em abismos. Sempre a lembrança que há ordens e a transgressão fustiga animações. Consumir faz parte da vida, no entanto quem estimula seus limites ? Não é cansativo repetir que as pessoas sofrem metamorfoses. Parecem coisas, possuem preços, misturam-se numa contabilidade cruel. Quem controla a sociedade sofistica seus domínios, investe na permanência do reino da mercadoria. A globalização reforça a expansão das corporações. Os lugares se multiplicaram, as parcerias com o pragmatismo se redimensionam. As histórias não deixam de ter contrapontos. Há quem ache inútil acordar às 4 horas da manhã e entrar numa fila para consagrar o consumo. Assim, vamos.
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Muitas vezes, as pessoas compram apenas pela necessidade de se sentirem inseridas nessa sociedade de consumo, ainda que não usem o produto.
Valéria
Muita se sente bem e se justifica na compra que faz. É uma pena.
abs
antonio paulo