O cais sempre flutuante dos sentimentos

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Quem sobrevive admitindo certezas pode escorregar na próxima esquina. É preciso fazer a leitura da vida, com cuidado, e observar a força do inesperado. Não é a toa que verdades se balançam e agonias perturbam silêncios aparentemente congelados. Há um medo que o acaso tome conta da ações e os sustos se sucedam desencantando o mundo. Para tudo, existe uma narrativa. Ela é uma interpretação do que foi visto, ela não esgota detalhes, ela gosta de mascarar objetivos. Mesmo a história, dita acadêmica, sofre seus desconfortos. A dificuldade de firmar desenhos do que aconteceu nunca foge da narrativa. Anuncia mudanças frequentes de imagens. Relativiza e atiça imaginações.

Inventou-se a ciência, criticou-se a religião, fortaleceu-se o positivismo. No entanto, os caminhos se entrelaçam em momentos imprevistos. Profetizar é um perigo. Não adianta fechar a gaveta da subjetividade. É um engano eleger um saber invulnerável. Sua chave é falsa e suas armadilhas descontinuadas. Portanto, não renegue a surpresa, não acuse os loucos de tumultuar o mundo. Analise seu cotidiano. As janelas deixam entrar o que você não percebe e trazem códigos que você ignora. Ficar perplexo não é delírio, mas sentir que as possibilidades nunca se encerram e que o ponto final é complexo e traiçoeiro. Talvez, nem exista.

Não abandone as especulações, nem vigie as batidas do coração. Desconfie dos destinos traçados e imutáveis. O não surge quando o sim se tornava soberano. As travessias  das narrativas indicam multiplicidades, pois procuram territórios sem quantificar o esgotamento de tempos. Tudo exige uma definição, porém não sinalize  o eterno, vestido de reflexões indiscutíveis. Saiba que a partida não significa a morte. O movimento traz inquietação, reconfigura o sentimento, garante que as energias possuem espantos e puxam as embarcações para ouvir o canto das sereias.A psicanálise ajuda a compreender as aventuras dos sentimentos. Não anula as crises,nem se considera a soberana que destrói os desacertos.

Freud debateu com seus sonhos, mostrou a fragilidade, as pulsões de vida e de morte. Não se foi entendendo todas as idas e as vindas de cada história. Não dispensou, porém,hermenêuticas. Hoje, a psicanálise ocupa espaços importantes, se digladia com as jogadas da indústria farmacêutica, enfrenta o ruído intenso das depressões. Sempre o futuro intrigando os sossegos e o presente envolvido por novidades que se transformam em mercadorias.Os sentimentos se refazem sem justificar certos silêncios e se sufocam com as regras tradicionais da vida engessadas. Ninguém apaga os deslocamentos dos sentimentos registrados na memória, nem anula as ousadias que mudam as histórias. Ritmos se compõem sem avisos num cais que se reinventa.

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1 Comment »

 
  • Rivelynno Lins disse:

    …e assim, o ato de metabolizar acontece. Numa captação para professores da rede estadual, perguntei ao palestrante, professor de geografia, o que se pode entender por metabolizar? Ele disse: é a ideia de compreender e atuar no mundo, melhorando-o para vc, para o coletivo e para a natureza em si, desta forma, estamos metabolizado. Historicamente, acredito que o processo de metabolizar pode ser encarado pela ideia de entender e atuar no mundo por meio de discursos e práticas relacionadas ao que nos afeta direta e indiretamente. Logo, é preciso entender que o absoluto e o relativo, o tradicional e o novo coabitam as formas de interpretar o movimento da história. E este movimento é performático, estilizado e cheios de nuances alegóricos, nem sempre claros, nem sempre inteligíveis, mas sempre cheios de vida, de novas formas de percepções praticamente infinitas. O movimento da história precisa ser turbinado pela ideia de que o afetivo, o solidário, o humano não devem ser separados da sua trilha sonora, na hora de compor a melhor coreografia a se apresentar e influenciar o grande público. E desta maneira, é necessário defender uma história com valores mais dançantes, a serem ensaiados e praticados, emocionando os corpos sedentos de afetividades mais inclusivas e solidárias, irmanados aos direitos humanos…

 

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