O espanto,a jaqueta, o avesso, Michael

As novidades são tantas que ficamos cansados. Não é toa que movimentos de nostalgia ganham força e os românticos sentem faltam dos amores sem limites dos tempos passados. O utilitarismo é enorme, termina retirando a surpresa de cena. Tudo é mercado, merece imagens e anúncios. Não pense que o descartável possui uma soberania inabalável. Os ecológicos irritam-se com o desperdício de energia. O excesso de lixo tumultua o cotidiano das cidades. Virou  negócio, para as empresas e para os catadores. Choque entre a riqueza e a miséria não é algo incomum. Existem muitas máscaras, mas ninguém deixa de ver as ruas cheias de carroças e os caminhões limpando as ruas. As licitações, na disputa pelo mercado do lixo,causam escândalos. Agitam o famoso Tribunal de Contas.

Vivemos de notícias e, também, as fabricamos, pois todos contam suas histórias. Não vamos sacudir a culpa na imprensa e jurar adesão ao controvertido politicamente correto. Por isso, mergulho nos jornais, logo cedo, e, ainda, me espanto com a diversidade do mundo. Acho inesgotável a capacidade de inventar do humano. Talvez, a complexidade da vida exija esforço e criação. É desafio, mas ajudado pela ousadia. No mundo do capitalismo, o ritmo da grana vence obstáculos e forma símbolos. Marx alertou para o fetiche da mercadoria. As coisas valem não só pelas horas de trabalho que incorporam. Há momentos da cultura que ditam costumes e firmam idolatrias. A fama atua. É avassaladora. Seu vaivém é destaque. Olhe as novelas das TVs ou os pronunciamentos dos craques de futebol. São exemplos efêmeros, porém contagiantes.

Não sossegue. Michael Jackson faz  parte da sociedade espetáculo. Celebraram-se dois anos da sua morte. Isso tem significados. O desaparecimentos das pessoas renova expectativas. Há especialistas em explorar os vestígios, aparentemente, estranhos e torná-los vitrine. A jaqueta de couro vermelho de Michael foi vendida por 1, 8 milhão de dólares. Não se revelou a identidade do comprador. O negócio constrói suas armações. O valor da jaqueta está relacionado com o vídeo-clipe Triller, sucesso monumental. O artista continua homenageado, mesmo com acusações de que teria cometido homicídio involuntário. O avesso traz debates. Mobiliza admiradores. Move o mercado, ressuscita fantasmas. O caso de Michael é uma citação. Lembre-se de outros. Elvis mantém-se quase como uma divindade. Seus discos permanecem vendidos e seu túmulo recebe visitas diárias.

É interessante como a sociedade precisa de imaginar indivíduos com poderes distintos e inimitáveis. O mecanismo de transferência fertiliza comportamentos e modas. O capitalismo bate palmas para tantos fanatismos. Seria o contrário do que pregam as religiões? Ou existe semelhanças na busca do extraordinário e do sagrado? Há uma necessidade de visualizar paraísos, mesmo que a desigualdade marque as relações sociais? Perguntas que desenham mapas de divagações. É inegável que cada época cultiva suas singularidades. O fogo do mercado atiça sonhos. É difícil definir o valor de quase tudo. Não só a jaqueta do artista norte-americano extrapola. Pense no que recebe Neymar, nos lucros que dão a obra musical dos Beatles, o impacto dos quadros de Salvador Dali, nos modelos recentes da informática…

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3 Comments »

 
  • Gleidson Lins disse:

    A indústria do entretenimento entende muito bem o desejo das pessoas. Alguns ícones da música continuam gerando lucros impressionantes mesmo depois de mortos, como é o caso de Michael Jackson, Elvis Presley e John Lennon. A roda da fortuna não tem sentimentos, o lucro é o que interessa, respaldado pela alegoria sempre presente nas mentes humanas.

    Abs,
    Gleidson Lins

  • Pandora disse:

    E eu penso, penso no salário de Neimar, nas jaquetas de Maicons, vestidos de Marilyns… na forma como deixamos que conduzam nossas vida… nessa imoralidade, como disse Paulo Freire, que é a convivência da fartura com a miséria… Se pensar demais surta, sou surtada por vida!

  • Pandora

    Pois é, há jeito para tudo ou vamos ficar nesse vaivém da cultura? É muita mistura e desencontro.
    abs
    antonio paulo

 

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