O fim de ano e os afetos vadios

A sociedade vive suas festas e suas tradições com proximidades profundas com o consumo. É nebuloso observar as celebrações e seus conteúdos afetivos. Muitas comemorações enchem os bares e as casas de festas. O delírio  toma conta do cotidiano. Tudo medido pelas ofertas que se mostram nas vitrines. Parece que esqueceram que navegar é preciso. A onda é se envolver com o mundo do consumo e soltar as amarras dos crediários. Dizem que a situação está complicada, mas os malabarismos existem e o valor de troca conhece seus caminhos.

O calendário anual não se cansa de inventar dias especiais. Mudam as sugestões, no entanto permanecem as máscaras e as alegrias fabricadas. Não vamos ser tão pessimistas. Tudo passa, ainda sobram sinceridades e verdades assumidas. O que dá medo é a força do efêmero. O sentimento não pode voar rapidamente. É fundamental acompanhá-lo com cuidado, sabendo dos limites da sedução. Cair no vazio é arquitetar melancolias e ilusões destrutivas.

A velocidade nos atrapalha. Falta tempo ou não queremos ser pacientes? A pressa continua senda inimiga de qualquer cuidado com outro. A perfeição não existe, mas podemos evitar desmandos e buscar solidariedades. Nem tudo está definitivamente estraçalhado. Há respirações e fôlegos que suportam ansiedades. Portanto, firmar atenção no jogo da propaganda ajuda. Há expressões confusas, a esquisitice de brincar de amigo secreto ou de sorteios de prêmios surpreendentes.

Alguns se divertem. Ficam aflitos quando não encontram como expandir essas festas programadas. Depois, costuma chegar uma ressaca, as dívidas sobem, os desenganos se fixam. Não há capitalismo sem espetáculos. Eles se localizam nos espaços que o lucro escolher. O importante é que a grana circule, a embriaguez traga novidades. Se os labirintos esperam por suas visitas, corrompidas pelas frustrações, a sociedade procura outras saídas. A questão é produzir flexibilidades, ser vadio no sonho e na aventura.

As coisas se articulam. As explorações passeiam e as desigualdades mantêm as disparidades sociais. As festas não são exclusivas, cada um faz sua acrobacia. Vende-se, no entanto, salvações, produtos fantásticos, drogas mágicas. Os entrelaçamentos são visíveis. A sociedade se balança, não se desfaz de suas artimanhas. Somos animais sociais. É inegável. Contudo não estamos livres do individualismo e da sede de acumular. Há uma pedagogia da concentração mesquinha que nos cerca. Ela é onipresente.

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