O movimento inesperado dos labirintos da história

Quem esperava tanta gente nas ruas e tantos prédios construídos numa velocidade incrível? Dizem que falta mão-de-obra, a precariedade dos serviços é visível. Improvisa-se, escondem-se os perigos, especula-se. Não há moradias suficientes, nem rede de esgoto que dê conta das necessidades mínimas da população. As praças públicas não são só locais de divertimento, mas de estacionamento de carros, de pregação de religiões, do fluir dos negócios de drogas, de acolhimento dos sem teto. É a quantidade que explode, como sinônimo de desenvolvimento, atravessando discursos, disfarçando desigualdades,acirrando invejas partidárias. Onde se localiza a saída do labirinto ninguém sabe? O olhar é ambicioso e concentrador, longe da solidariedade, afastado dos sinais de cidadania.

Não se cogita parar. Aliás, a história não freia o tempo. Ele se faz e arquiteta carregando os desejos, sem pedir interrupções. A cultura segue, escolhendo significados, mesmo que seus dicionários sejam ilustrativos da desordem. Há mais celulares do que pessoas. O mundo está repleto de personagens que passeiam pela vida, representando seus textos, vestindo seus modelos, se engraçando com seus espelhos. Imagine o problema alimentar da China, a degradação das favelas nas cidades brasileiras, a disputas religiosas entre os muçulmanos, a fome crescente em vários países da África!

Não há sossego. As teorias são, rapidamente, superadas. A questão não é secular, porém de semanas ou de minutos. O saber vale muito e contribui para concretizar hegemonias. Por isso, o investimento na educação é uma opção clara das grandes potências. Prevalece o conteúdo técnico, a possibilidade de conquistar mercados. Os mistérios do humano estão na reserva. Criam-se crenças, retomam-se rituais medievais, apela-se para violência, mas quem controla o ir-e-vir dos conhecimentos se conecta no lucro. Os lamentos ocorrem quando as expectativas comerciais são frustradas ou quando as bolsas se curvam às instabilidades das economias mais poderosas. As lágrimas sintetizam sentimentos de fraqueza.

Não vamos atribuir um sentido a história. Não há como ficar prisioneiro das adivinhações ou de quadros estatísticos. A complexidade não está, apenas, nas relações sociais, na diversidade de costumes, nas manipulações das imagens. O pode da tecnologia não é infinito, é compatível com a nossa incompletude. São frequentes tragédias inesperadas que desnorteiam planejamento e furam esquemas, aparentemente, inexpunáveis. As fronteiras entre a fama e os desmantelos são confusas. O sorriso pode ser um truque da propaganda, um artifício do produtor perverso para enganar o público. Portanto, as ambiguidade se sucedem, não adormecem.

Lembrar o labirinto e seus desenhos surpreendentes atiça compreender que a história é uma invenção, no entanto não é um quebra-cabeça com mapa definido e instigado pela eternidade.O signo da liberdade nos assanha. O que é uma sociedade livre ou autônoma? É aquela que dá a ela mesma, efetiva e reflexivamente, suas próprias leis, sabendo o que faz… Estamos muito longe de uma sociedade livre. E quem imaginaria por um instante que a preocupação ardente das oligarquias dominante seria de nos fazer chegar a tal sociedade? Quem se compromete com as interrogações de Castoriadis ou nega a força das utopias?

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2 Comments »

 
  • Flávia disse:

    Antonio!!!
    Estava em uma praia nativa em Alagoas (Porto da Rua) de onde se pode ver (da janela do chalé) um nascer do sol, tão lindo, quase como o da paisagem que você escolheu para postar hoje. E o melhor, sem sinal para celular.
    É bom, de vez em quando, sair da tumultuada cena urbana, se distanciar “da quantidade que explode”, buscar compreender “as saídas dos labirintos” e valorizar, mais ainda, o sossego tão raro.
    Somos incompletos, o “signo da liberdade nos assanha”, Rezende nos interroga…
    O SOL fala da imensidão do universo que nos invade, nos provoca e nos compromete com “a força das utopias”.
    Bom estar de novo por aqui, nos labirintos desassossegados da História!
    Bjs
    Flávia

  • Flávia
    A contemplação faz bem a saúde.
    Bjs
    Antonio

 

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