O mundo de Mia Couto: encantos
Já escrevi muitos textos sobre Mia. Li seus livros com muita paixão. Seus escritos conversam com as palavras com uma intimidade emocionante. O mundo precisa de pessoas que sintam o afeto. O excesso de jogos de poder cansam e trazem discordâncias constantes. Quando surge alguém que toca na generosidade a celebração deve ser feita. Portanto, é sempre bom lembrar a multiplicidade da cultura, não cair na mesmice, não naufragar no perdão das divindades. Mia consegue transcender. É uma leitura que transforma e avisa que é importante sentir e não ficar contando roubos e explorações, afogado nas manchetes. O mundo se afunda em espertezas. A leitura pode ser um caminho para denunciar os desgovernos cínicos.
Nunca é demais a contemplação da beleza. Há uma pressa que esvazia e inutilizar a vida. As energias se perdem no negativo ou nas manipulações. Vejo na obra de Mia uma busca com o encanto do mundo. Há avesos que tomam conta da política, há as armas que circulam firmando riquezas monopolistas. Quando Mia lembra a diversidade quebra o jogo do poder de violência. Há quem silencie e o silêncio pode ser uma escuta preciosa. Há quem faça ruídos, mostre as dissonâncias. É preciso questionar ordens que sonegam criatividades. Será que a rebeldia está moribunda? E a magia se solta pelo universo?
Mia Couto traz diálogos permanentes. Como esquecer Guimarães, Calvino, Fellini, Piazzolla, Drummond, Cartola e tantos outros que não fogem do círculo das palavras e dos ritmos. Nietzsche se entrelaça no seu eterno retorno, desenha luzes e sombras. O mundo escorrega, há labirintos desiguais e medos. No entanto, consagrar a homogeneidade é decretar que o espelho foi quebrado para sempre. Inventar é fundamental com coragem e surpresa. Sei que o minoria procura trilhas com flores vermelhas e que não fecha os olhos. A história é construção, é compromisso. Há os acasos, a indefinição do paraíso, mas o sentimento não deve ser servo da dor.
Não se afaste da palavras que revelam significados que animam. A desconfiança existe e aqueles que a promovem a insensatez. Quem quer reinventar o mundo deve buscar outras lógicas. Muitos dizem que uma gestão equilibrada do capitalismo ressuscita o mundo. Talvez, esqueçam-se do cotidiano e reflitam sobre a concentração de riqueza, as manobras estatísticas. Viver na dependência do valor de troca é sepultar a aproximação e se misturar com a s mercadorias. O culto à grana é deixar que a desigualdade se espalhe e as vitrines continuem. Mia diz: “O tempo não tem corrida. As pernas do tempo estão em nós mesmos.” Não adormeça na autonomia, desenhe seus tempos com cores que dão fôlegos. Saudações… As dúvidas podem parecer serenidades, a estrela está no universo do coração.
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Texto muito interessante. Obrigada.
Jaílson
Saudades
antonio