O temor das falas e das intrigas

Nunca se falou tanto e se exagerou nas conversas surpreendentes e incômodas. Há uma clima de intrigas que não sossega. As últimas eleições deixaram terrenos escorregadios e brincadeiras perversas. Os afetos ganharam geometrias estranhas, fugindo das proximidade e trazendo afastamentos constantes. Há um mercado de culpas e indignações. Curtem-se a agressão, o descontrole, o ressentimento. Portanto, o excesso de desconfiança toma conta do cotidiano. As notícias inquietam e os sossegos moram nos desertos.

Os meios de comunicação aprisionam desejos. Há quem só consiga sentir o outro acionando o zap. Muita pressa, pouco acolhimento, corridas para contar as novidades. Não se busca a solidariedade, para se evitar desmantelos e fugir da desigualdades. Nota-se uma exaltação desmedida a antigos preconceitos, a volta de raivas vingativas, os assassinatos coletivos. São comportamentos que mostram a fragilidade dosvalores iluministas e a permanência das egolatrias. O poder fascina e atrai com força e astúcia.

As perdas cansam, configuram síndromes e afastam pessoas de tolerâncias. Todos estão donos de verdades? Há muitas luz nos olhos? Os diagnósticos variam e temem fixar destinos. Os governos lutam para esconder seus planos, nada possuem de democráticos, vivem assombrando. Estamos sendo colonizados por jogos de notícias. Multiplicam-se especializações em exercitar o ser feliz é o que estampam as manchetes dos jornais. Abrem-se consultórios de terapias renovadores, mas as dores não se vão. A atmosfera de melancolia invade e desfaz utopias antes tão celebradas.

Não se engane. Há controles e desgovernos numa luta ferrenha.Estamos no meio de um caminho cheio de abismos e teimamos na busca de saídas para esculpir figuras que nos devolvam a beleza. Será que ela existiu um dia? As repetições das narrativas não acompanham a construção da memória? As rebeldias desenham dissonâncias, porém as arrogâncias de quem concentra a ordem nos empurram para as dúvidas. Uma fatiga mental pretende ser curada pelas acrobacias dos corpos desadormecidos pelas máquinas das academias. As sombras assustam e vida continua na cadência dos desencontros.

You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.

1 Comment »

 
  • Rivelynno Lins disse:

    …corpos tristes, impotentes e deprimidos formam seus grupos, há exclusão e individualismo exacerbados. A sociedade vivencia mudanças abruptas, os donos dos poder ditam as novas regras, a precariedade das leis trabalhistas imperam, os meios de comunicação afirmam que com menos direitos previdenciários, o país distribuirá empregos como nunca. Outras grupos inconformados por essas ideias mentirosas se manifestam, contudo, não tem forças para barrar as reformas perversas. Fora do mercado de trabalho, os indivíduos excluídos se desesperam. Inseridos no mercado de trabalho, uma grande maioria sente os baixos salários e a precarização dos sub-empregos, tudo parece girar em volta de um mundo de poucas oportunidades para muitos. As informações dadas pelos meios de comunicação não são confiáveis. A indiferença cresce entre as pessoas e todos procuram um culpado e este culpado, nunca é o mesmo para as mais diversas pluridade de indivíduos, de grupos sociais e de ideias que circulam na sociedade, a harmonia, tão desejada dentro de qualquer ordem social bem resolvida, dilui-se rapidamente, como um sorvete que derrete-se ao sol…

 

Deixe uma resposta

XHTML: You can use these tags: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>