Ocupe Estelita: sonhos, dissonâncias, políticas

 

As transformações existem para que a história se movimente. Elas possuem acasos, mas estão também ligadas ao agir das pessoas. É preciso que as permanências não sejam perenes. O novo deve afirmar conteúdos solidários e não ser apenas uma ordem ornamentada pelos dominantes. Há pessimismos que intimidam, no entanto as surpresas sacodem sonhos, retomam memória. Vivemos numa sociedade globalizada, onde a exploração ocupa lugar de destaque. Responder com apatias é fazer valer cinismos perigosos.

As lutas de hoje não podem ter a forma das do século XVIII. Houve épocas de se pensar em rupturas profundas, com mudanças nos calendários e uma agressividade veloz. As revoluções aconteceram, construíram projetos, refizeram convivências. As frustrações continuam, pois a famosa democracia não se espalhou como se esperava. A modernidade arquitetou muitos reviravoltas, desmontou paradigmas, ajudou a elaborar redefinições políticas.

O capitalismo ganhou pelejas e firmou posições. Ele está no jogo do poder com armas e discursos que se modificam e procuram acompanhar as circunstâncias. Não abandona o desenvolvimento ou melhor à exaltação a um progresso que reproduz privilégios. Manipula, inventa paraísos, entrelaça profecias. Consegue convencimentos, mas as contradições não se vão. As precariedade sociais se multiplicam. Torres luxuosas se confrontam com moradias totalmente desumanas.

Quando se denuncia que as tensões são grandes, muita gente se sente ofendida. Há rebeldias que, logo, são denominadas de vandalismos. Há os que defendem a intervenção policial e lembram a sagrada propriedade privada. O pior é que, muitas vezes, são figuras comprometidas com obscuridades, que  confundem o público com o privado. Será que desconhecem a cidadania ou  planejam férias anuais dos compromissos coletivos? A grana exerce fascínio de forma avassaladora.

É importante que haja indignação e que o diálogo político se estenda. Nem todos seguem o mesmo caminho, nem todos se tocam com os infortúnios dos outros. É a diversidade social que não deixou de existir e mostra que a convivência é complexa. Negociações são necessárias. Quem governa tem a responsabilidade de não abandonar a vigilância e o cuidado com a sociedade. Se entra nas manobras das grandes corporações termina  escondendo-se nos labirintos da burocracia.

A história constrói possibilidades. Não é produto de divindades transcendentais. Estamos no mundo para atuar, não temer aventuras, buscar aproximações. Se as tensões se avolumam, se a arrogância se sofistica, se há um afastamento da qualidade de vida, para que as minoria usufruam de confortos  misteriosos, a sociabilidade se esfarrapa. Os fascismos não morreram. Quando as crises políticas se acirram eles aparecem sem disfarces, na voz de pessoas que expressam grupos e não estão solitárias.

Não permitir que o sonho seja censurado traz  respiração para vida política. Consagrar as repressões risca autonomias, cria distâncias da democracia idealizada. Temos que idealizar, para tentarmos fugir da mesmice e do limite de sermos meros consumidores de mercadorias. O esvaziamento do debates não é saudável. Há dissonância, há diferenças, mas há também reconfigurações. Ocupar sonhos, localizá-los no cotidiano anima a história, Quem gosta da monotonia e dos falsos devaneios se vestem com narcisismos que estreitam a vida.

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2 Comments »

 
  • Ana Flávia disse:

    “O novo deve afirmar conteúdos solidários e não ser apenas uma ordem ornamentada pelos dominantes.” Frase que deveria alimentar muitas salas e gabinetes – públicos, acadêmicos, empresariais…

    Lindo texto!

  • Ana
    Agradeço sua presença por aqui. Boa sorte.
    abraço
    antonio

 

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