Os anúncios das tensões contínuas e gerais

As recentes greves mostram que a sociedade está inquieta. É uma questão básica. A imprensa dá grande destaque, criam-se assombrações, o medo se espalha. Mas, muitas vezes, não se toca no cerne da rebeldia. Como funcionam as relações de poder? As análises deixam de lado as desigualdades construídas historicamente. Limita-se ao agora, não se interessa em perceber que há permanências tradicionais. As distâncias salariais são gigantescas, os que ganham mais possuem privilégios. Eles conseguem aumentar seus rendimentos que estão longe de se parecerem com o salário mínimo. Basta observar as Assembléias Legislativas, o somatório das suas gratificações. Isso não fica esquecido. Faz parte das indignações.

Os vencimentos dos policiais são, realmente, vergonhosos. Correm perigos, vivem na corda bamba, sentem os desgovernos cotidianos, portam armas e se defrontam com as violências de forma direta. Então, o sentimento não poderia ser de sossego. O fio está esticado. Diante dos contrastes, sobram inconformismos, além de denúncias que os colocam em alerta. Portanto, o limite que os sustenta é frágil e o convívio com a morte transforma a vida num suspense. O emocional é desprezado, quando se ressalta a objetividade das quantidades e das aventuras da grana. Tudo está entrelaçado, incomoda, merece olhares mais cuidadosos. A tensão é imensa, porque o problema ultrapassa as versões sensacionalistas. A cabeça e o coração não comportam só números.

É importante fugir da superfície. O sistema é competitivo, não é, apenas, um mercado de objetos atraentes. As pessoas se entusiasmam com o poder de compra, contudo se frustram ao ver que a acumulação não é a garantia da felicidade. Se há desprezo pela segurança, o mesmo ocorre com a educação. Os valores ficam soltos, parecem preços, esvaziam a construção de uma ética que incentive compartilhamentos. Mais uma vez, a questão salarial volta ao cenário. Os professores recebem pouco, lutam para que surja uma luz no fim do túnel. As políticas públicas não convencem, trazem desconfianças contínuas.

Sem se valer de teorias complexas para explicações acadêmicas, também, se visualizam as contradições. Os lucros bancários são fabulosos. Até Dilma Rousseff se espantou com tanta facilidade para ganhar dinheiro. Pediu medidas de controle. Tudo isso, fermenta tensões. Não estamos na era das revoluções. As trilhas políticas seguem rumos pragmáticos. Falta mesmo reflexão, valoriza-se o imediato. Nem mesmo os grevistas entram na especulação maior das lutas e há um esvaziamento que impede articulações mais consequentes. Os interesses corporativos terminam invadindo os lugares de negociação. Prevalece o individualismo tão comum aos fazeres capitalistas.

Não é fácil navegar por esses mares turbulentos. Os sinais de alerta ligados provocam todos. Os desencontros acompanham a sociedade globalizada, avançam por terrtórios privados. Pensar o futuro, tentar enquadrá-lo, sempre foi um risco. Na velocidade do mundo atual, fica difícil definir o que é futur. O descartável é soberano. O amanhã já nasce velho, o espetáculo das novidades não cessa. Se antes se lamentava a força da tradição, hoje se lamenta a falta de pertencimentos. A confusão atiça confrontros,desmanancha sentidos, configura barbáries. Não há como imobilizar as tensões. Resta comprendê-las, sem desenhar máscaras.

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