Caminhos escorregadios: saber, poder, verdade

Os discursos totalitários buscam imprimir o ritmo da verdade única. A imensidão da cultura não ameniza certos autoritarismos. Há quem prefira fechar os olhos e afirmar que possui o centro do mundo. Essas polêmicas atravessam a história. O saber não é ingênuo, ele dialoga com o poder, com intimidade e astúcia. As relações sociais vivem sua multiplicidade, mas o egocentrismo e as vaidades fazem parte da convivência. A competição traz tensões e significados. Nem sempre a atmosfera da tolerância é festejada. Há arrogâncias, disfarces, missões. A quantidade de argumentos é complexa e o emocional conta na formulação das ideias, esconde artifícios e justifica desmantelos.

Na sociedade contemporânea, somos provocados por muitos discursos. Temos que construir nossas escolhas, às vezes, apressados e tímidos. As questões políticas, os julgamentos, os hábitos culturais estão se renovando. O mundo da velocidade não é uma ficção. O tempo do relógio se confunde com o tempo do afeto. As hierarquias ditam ordens, tentam simular boas intenções, porém é preciso atenção, porque o cotidiano é espaço onde o poder se esticar e aprisiona. O saber consegue contrapor-se aos sistemas dominantes, mas, paradoxalmente, também serve aos donos do poder. Isso nos aflige, pois forma fronteiras e abismos.

Há quem pense que os argumentos acadêmicos inibem todos os outros. Não se pode negar que as academias possuem privilégios. No entanto, as experiências são fundamentais para redefinir as concepções de mundo e as dimensões da sociabilidade. O saber acadêmico fecha-se, muitas vezes, com seus códigos. Perde a força da crítica e alia-se às estratégias narcisistas. Daí, a dificuldade de se arquitetar uma sociedade democrática, onde a cultura se amplie sem encurralar ou eleger vaidades. Nas lutas sociais, os saberes também se inserem. Observem os anarquistas, os liberais, os nazistas. Analise suas propostas. Quem negaria as dissonâncias entre as teorias de Marx, Freud, Rousseau, Platão, Sartre?

Vivemos no meio de um mundo que não sossega. O capitalismo estimula as corridas em busca do sucesso. Seus esclarecimentos são, muitas vezes, armaduras para combater a rebeldia. Quem se incomoda, sofre com manobras sutis ou violentas de inibição. O ideal, para quem controla a sociedade, é  a consagração contínua de seus argumentos.  Os jogos são muitos, misturam-se, possuem lógicas parecidas. Muitos propagam um discurso contra a desigualdade, mas não conseguem efetivá-lo na prática. Escorregam numa coerência pouco consistente.

As relações entre saber e poder não devem, portanto, ser esquecidas. Elas envolvem-se com a construção das verdades. Circulam pelas universidades, redes de televisão, projetos de pesquisa, escolas de arte, livros didáticos, técnicas de propaganda… Não há um lugar especial. Por isso que as instituições não se descuidam de ocupar as mentes de cada um e afirmar que encontraram o caminho da salvação. As religiões procuram também estender seus pactos. Os livros sagrados formulam  leituras que ousam desnudar mistérios. Por que se afastar dos acessos aos negócios lucrativos, questionam os espertos? É uma pergunta que permanece sacudindo  comportamentos. Não é à toa que as máscaras invisíveis são eficazes. Soltam as transgressões de antigos carnavais.

 

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