Os descompassos obscuros do futebol e do mercado
Sou tricolor. Não esqueço, mesmo com todos os desacertos e frustrações. Há escolhas na vida que não precisam de explicação. Torna a aventura mais misteriosa e foge da mesmice. Depois, existe o ritmo do perdão e do esquecimento. Preocupo-me, porque as expectativas otimistas estão sendo esvaziadas. Não falo, apenas, do Santa Cruz. Como o futebol virou um fabuloso negócio, sobram desconfianças sobre quem o governa. Há muitas manipulações e disfarces. O fluir da grana satisfaz privilégios de minorias. A palavra de ordem é faturar. Ela contamina tudo. Traz enganos e ilusões para quem se segura na ingenuidade.
Agravam-se as denúncias. Ricardo Teixeira é um símbolo esperto que permanece sem punição. Acusar é fácil, porém as falcatruas são bem tramadas. Possuem esconderijos sofisticados e internacionais. Há gabinetes secretos que definem trilha da grana. Ela não se perde, nem se socializa. Os torcedores é que ficam na turbulência, querendo ver espetáculos emocionantes, retomar paixões. O futebol tornou-se uma atração que seduz com a ajuda dos meios de comunicação. Não se observa muito a qualidade do jogo. O tempo é outro. A soberania da TV dita, normas, horários, cala os rebeldes Poucos investigam os caminhos que agradam aos interesses dos dirigentes.
O Brasil não consegue firmar a posição que tinha antes. O mercado exerce pressão. As nossas possíveis estrelas emigram. Querem salários altos, desfrutar de confortos, seguem encantados com o exterior. Não há planejamentos, muito menos pudor. O jogador é uma mercadoria. Sua venda pode significar o pagamento de dívidas obscuras feitas pelos clubes. É um alívio para esconder os desgovernos. Concentra-se riqueza, acompanhando os malabarismos capitalistas. Não podia ser diferente. O futebol não é uma ilha coletiva, com prazeres e sociabilidades solidários. Ele dança o ritmo de quem manda. Ganham votos políticos que se dizem torcedores. O fanatismo borda máscara de todo tipo.
Multidões, contudo, continuam indo aos estádios. Houve uma queda na frequência. As TVs ficam com a outra grande parte da plateia. Os patrocínios milionários sustentam projetos de audiência, inventam fantasias, multiplicam os desejos. Há quem organize torcidas, grupos que, nem sempre, se movem pelas acrobacias dos artistas. O futebol também assimilou disputas violentas. Existem fronteiras que dividem as opções e intimidam os que pensam no divertimento. Criam-se ressentimentos que desafiam o poder público e as análises dos especialistas. O jogo é uma fuga, uma forma de mostrar que a sociedade não abandonou seus contrapontos e vive estimulando discordâncias.
A seleção brasileira não está ausente do vaivém. Não sabe o que é autonomia. É vítima dos arranjos da CBF, enfrenta adversários que nada lembram os antigos confrontos. Quem conhece os outros tempos, desanima, O futebol festeja o controle, fabrica ídolos, entra no feitiço do efêmero. Reforma suas vitrines para vender produtos e afirmar as vaidades dos vencedores. Os brilhos são fabricados, articulam-se com pragmatismo presente na política e na cultura. Mas o fascínio não morreu. A bola sofre, murcha, recebe nomes esquisitos. A emoção sobrevive, pois a história não é lugar do absoluto. Temos olhos para contemplar muitas paisagens.
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Concordo com tudo, Professor! Ultimamente não tenho tido prazer nenhum em ver a seleção brasileira jogar. Não sei se é pq quando era criança tudo era fantasia, ou se realmente a seleção já não é lá tão mágica como antes… Por isso mesmo hoje eu admiro Leo Messi e o Barcelona, que parecem ser os únicos no mundo hoje que fogem um pouco dessa regra atual do futebol – pelo menos dentro de campo…
Emanuel
As relações são muito mediadas pelos sucesso e pela grana. É lamentável.Tiram a paixão.
abs
antonio