A política é um jogo: as inquietações mal resolvidas

Tudo se toca. A originalidade é coisa pouco usual. Numa sociedade de massas, os disfarces se espalham, para vender novidades, mas o criativo e o revolucionário tornam-se frágeis. Uma loja de máscaras ambulantes se instala em cada esquina, com vitrines invisíveis. Não faltam disputas ou abraços vazios de afeto. Não vamos universalizar os desconfortos. Há também espaços de solidariedade, sem lamúrias ou encenações. No entanto, é preciso ressaltar o que predomina.

Na política, a profissionalização constante dos deveres tira muitos princípios éticos da realização dos seus projetos. Maquiavel e Hobbes devem sorrir, mesmo sendo parceiros de outras épocas. Egoísmos sempre presentes. Transparências só nas propagandas ou nas declarações para entusiasmar eleitores. O discurso é atravessado. A desconfiança assume lugar de destaque. Vivemos, no final do governo Lula, a preparação do ministério de Dilma, eleita para o cargo máximo, numa aliança de partidos bastante controvertida.

A busca por posições merece estratégias sutis, porém articuladas exaustivamente. Os cenários são surrealistas. A imprensa consegue aumentar, mais ainda, o sensacionalismo de cada passo dado pela dirigente toda poderosa. Sarney reclama. Eduardo quer força para o PSB. O PMDB não deixa de mostrar sua fome de poder. Muitas questões e vaidades desfilando e adensando a perplexidade de quem analisa tantos desencontros.

Dizer que a política é um jogo não exagero, nem brincadeira de mal gosto. A população se move e gera um contidiano tenso. Isso dificulta o diálogo e promove debates, movidos por discursos contraditórios. Há políticos que são perfeitos, dentro da pequena área, como Romário. Outros gostam de aparecer sempre, não perdendo o jeito arrogante, como Luxemburgo. Existem os que se comportam como beques faltosos e amigos dos chutões. Querem se situar, mesmo que sejam meros coadjuvantes.

Tudo isso exige atenção e compromisso. A política não é uma arte no sentido estético. Ela tem suas variáveis e seus labirintos. Suas regras são flexíveis, pois caminham em busca de recompensas, muitas vezes, materiais, longe da cidadania. Com o crescimento da sociedade de consumo, houve a valorização do brilho do objeto, do seu charme, dos encantos da moda. A política foi contaminada pela necessidade da vitória, aprofundando as profecias do maquiavelismo. Debilitou-se o social, em nome do mérito da competição.

O jogo é complicado, antes mesmo da máquina executar os planos da campanha. A futura governante prova das amarguras e se segura como pode. A pressão se alarga. O teatro desenha personagens que mudam seu perfil, sem muito esforço. Dilma convoca seus companheiros de jornada. Muita conversa perdida ou desfeita, destrói esperanças anunciadas e desmontam líderes festejados. A velocidade incomoda quem se envolve com um fazer crítico e coletivo.

O leito do poder não se reveste com lençóis perfumados que garantem sonos restauradores. Os duendes da política são hábeis articuladores de armaduras e armadilhas. Confundem o corpo com a  alma. Cada grupo possui suas fórmulas. Parece aqueles técnicos que contratam jogadores consagrados,   ouvindo os conselhos dos empresários. Decepções cabem, num mundo onde o sonho tem a cor do vestido da atriz mais conhecida.

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