Por onde circulam os suspiros da rebeldia?

                             

As rebeldias não têm moradias fixas. Mudam de lugar e vestem-se com as modas de cada tempo. É difícil prevê-las. Inquietações surgem, há expectativas  de transgressões, mas a calmaria reassume o controle das relações sociais. Bate uma apatia inesperada e a ordem concretiza sua repressão. Isso é história. Permanências resistindo. Não querem ser incomodadas no seu sono. Sente-se falta, de alguma coisa, para mover a vontade de desconstruir. Engessam-se planos, escondem-se imaginações, desmontam-se desejos.

As condições subjetivas nem sempre acompanham as chamadas condições objetivas. Grupos revelam suas insatisfações, porém prevalecem o efêmero e o superficial. James Dean e Janis Joplin foram artista, do século XX, que balançaram costumes e renovaram comportamentos. Tornaram-se ícones. Ocupam páginas de análises acadêmicas, suas atuações são lembrados, como modelos de uma época. A sociedade se recompõe, pede novas dissidências. Dean e Joplin fazem parte da memória. Não deixam de possuir seus admiradores.

Hoje, a velocidade comanda o espetáculo. Sucessos imediatos, aventuras radicais, imagens ferozes. A política não aposta muito em revoluções. Verdades, antes, inabaláveis caem no desprezo. Quando se iniciaram os protestos no Egito, as asssombrações do passado retomaram seus espaços. Que estava acontecendo no Oriente Médio? Mensagens circulavam na internet e a multidão fortalecia seus ruídos. O velhor ditador não acreditava no que via. Sua pirâmide de poder se esfarelava. Não adiantavam as censuras e os discursos. Ele renunciou e festa ganha as ruas e os corações.

É um sinal, uma travessia que se apresenta e traz internacionalizações de práticas diferentes ? O mundo se escuta e observa o voo dos pássaros, como as antigos adivinhos. As esperanças se misturam com o medo ou os desencontros atingem a vida cotidiana desenhando cartografias encantadas ? Continua A moral da ambiguidade, um  dos títulos da obra de Simone de Beuvoir. As instituições se constituem, depois ficam na gangorra. Por isso, a dúvida não desaparece e incomoda.

O tempo vai se costurando e as notícias chegando. O álcool faz vítimas e o Brasil possui um grande número delas. Um escândalo na saúde pública ? Todos sabemos que existem as drogas permitidas. A economia recebe incrementos, com seus consumos. Já pensou o fechamento de todas as fábricas de cerveja e de vinho ? Era uma redefinição, na arquitetura das relações econômicas, arrasadora. Houve alguma sociedade moderna onde as drogas foram expurgadas?

Novamente, as repetições nos acolhendo. Os nomes são outros, no entanto, as solicitações não configuram outros rostos. Parece que a embriaguez é um componente da cultura, produtora de ilusões necessárias aos afetos de cada um. É uma passagem ou uma senha, para fechar as portas da melancolia e fertilizar as coragens amorosas. Nada de certeza, apenas riscos para mapas de sentimentos históricos.

As rebeldias não consagram uma geometria enfadonha. Querem rasgar ordens opressoras e garantir o fluir dos sonhos. Os valores humanos tocam, transmitem o conteúdo de convivências, às vezes, pouco atraentes. Transitamos pelo individual e pelo coletivo, mas a sinfonia da vida nunca perde suas quebras de ritmos. Os extremos realizam seus pactos, mesmo que frágeis e descoloridos.

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2 Comments »

 
  • Flávia Campos disse:

    Antonio,
    Por onde circulam os suspiros da rebeldia?
    Gostaria muito de poder dizer que a rebeldia, habitante transgressora da nossa condição humana, está ganhando para a apatia com o mesmo placar do jogo de ontem do Brasil,6X0.
    Mas… Rezende já nos demonstrou que não é bem assim…
    Realmente é grande a apatia que engessam os planos, escondem as imaginações, desmontam os desejos.
    Os suspiros da rebeldia para transformar-se em grito, ou canto coletivo, só ganha visibilidade quando tecido com outros.
    Assim como os galos de João Cabral de Melo Neto que para tecer a manhã precisam de “um que apanhe o grito e o lance a outro”, até “cruzarem os fios de sol de seus gritos”, para que “a manhã vá se tecendo, entre todos os galos”.
    A História confirma que a sociedade se recompõe tecida nos gritos de rebeldia, nas dissidências, no acender das dúvidas, na identificação de rostos, no fluir dos sonhos.
    O historiador ao contá-la, ao decifrá-la, amplia esse canto de forma misteriosa, bela e impregnada de magia. Daí ser um campo difícil de definir… Melhor saborear os seus frutos, que são sempre precursores da época vindoura.
    Obrigada Antonio pelo tecido diário de manhãs que nos ajudam a reconhecer as quebras de ritmos, as geometrias enfadonhas e, nos desafiam a completar com ousadia, a sinfonia do viver e conviver humano.
    Bjs
    Flávia

  • Flávia

    Tecer a história com a força do coletivo é ponto para transformação. Mas falta esse ritmo no cotidiano. O narcisismo impera.
    bjs
    antonio paulo

 

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