Santos e Barcelona: a cadência do futebol
O Santos viajou empolgado. Parecia uma volta aos anos de Pelé. Muita preparação, cuidados especiais e vontade de derrubar a hegemonia do Barcelona. O time tem suas lacunas, não é a sombra daquela época de Coutinho e Pepe, mas merece respeito e confiança. Futebol é um jogo, rico em possibilidades de improvisação, com surpresas demolidoras, apesar dos especialistas quererem diminuir sua rara criatividade. Faz parte do pragmatismo contemporâneo. A arte fica em segundo plano. Arma-se estratégia de segurança, formam-se bloqueios e esquecem de liberar o ataque. O espetáculo esvazia-se, muitos preferem o conforto do sofá, pois a apatia tira o movimento do malabarismo e da invenção.
O Santos possui Neymar, Ganso, Borges. O Barcelona congrega uma equipe de craques e o comando de Messi. Vez por outra, deixa o Real Madrid perplexo e segue adiante desfilando soberania e encanto. Portanto, a imprensa multiplicou expectativas, os japoneses atiçaram o gosto pela bola flutuante e travessa, o mundo globalizado abriu, mais ainda, portas e mercados para o entusiasmo de multidões. O domingo, de manhã , tornou-se dia celebrado, a animação madrugou, o circo ampliou seus cenários. Quem vencerá? Quem fará peripécias inesperadas? Quem agitará a torcida com os gritos internacionais de gol? Neymar ou Messi? Por onde anda o despertador?
A atmosfera de final de ano ajuda a assanhar os interesses. Perto da festa do consumo, dos sinos ruidosos de Papai Noel, a festa do futebol se multiplica sem concorrência. As TVs se transformam em vitrines cortejadas, as redes sociais se manifestam, a cerveja aparece para cumprir o ritual daqueles que nem conseguiram dormir. O esporte se entrelaça com a paixão, toca em crenças, lembra religiões e fanatismos. Por isso, brotam excessos de violência, onde deveria manter-se o desejo da diversão. O mundo é do mercado, das bolsas, das moedas fortes, das astúcias das grandes corporações. Os nacionalismos vacilam, não estamos no século XX, somos prisioneiros do imediato.
Não precisa muita teoria. A bola nos pés de quem sabe, rompe prognósticos e não se casa bem com os exageros da razão. É momento de delírio. Mas jogo, também, frustra, se arrasta, se acomoda. Barcelona e Santos podem sufocar o mundo de emoção. Barcelona e Santos podem assanhar o mundo pelas manobras das suas estrelas. Isso desloca o tique-taque do coração, retoma nostalgias, ressuscita maldições. Quem fica com a glória e fecha o ano consagrando aventuras singulares? O lugar do sonho projeta-se.
A tensão inicial é o anúncio quase fatal. Os olhos avaliam cada momento. Todos se tornam especialistas. Não faltam profecias ou desconfianças antipáticas. É o clima, a emoção, a inquietude. Mas o Barcelona não se intimidava.Tocava seus concertos harmônicos e sedutores. O primeiro tempo foi um espetáculo. O Santos lembrava, contudo, um aprendiz, ingênuo e incapaz, desarticulado, acompanhando o ritmo do adversário, espantado com a maestria dos outros. A bola não queria saber dos alvinegros. E a história não se modificou. O Barcelona ganhou de 4×0, com um domínio absoluto e dois tentos de Messi. O Santo não manteve a empolgação que motivou sua longa viagem.
You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.
Assim como poucos acreditei na vitória suada da equipe brasileira mas não deu, o Barcelona voa dentro de campo fruto de uma organização que há décadas vem se formando, Messi é um monstro da bola, ja espera ancioso pela bola de ouro em janeiro no prêmio da FIFA. O futebol brasileiro está numa fase de muitos aprendizados esta final serviu como uma aula para a preparação de nossos clubes e a própria seleção brasileira, enfim não sei qual equipe irá bater o “poderoso chefão” BARCELONA, e Messi, seu futebol encanta o Mundo mas na sua seleção! E assim as astúcias do futebol termina 2011 e um novo ciclo se inicia em 2012.
Rezende,
Há tempos devo visitas a sua página. As férias chegaram e com ela a vontade de fazer tudo o que o tempo limitado dos “dias úteis” não permitiu. É muito bom poder aproveitar ao máximo esses dias de ócio e preencher seus espaços vazios com atividades salutares como as boas leituras diárias da Astúcia de Ulisses.
Fui também um dos poucos que acreditavam na vitória do time brasileiro. Infelizmente não deu… O Barcelona de Messi foi superior em todos os sentidos… Regeu todo jogo, mantendo o acanhado Santos de Neymar por 90 minutos sob sua batuta. Rapidamente a mídia e as redes sociais noticiaram o triunfo do time espanhol e a derrocada dos meninos da vila, algumas vezes de maneira crítica, outras, de maneira cômica. No entanto, o que me deixou mais intrigado foi ver o desprezo de muitos brasileiros pelo time do Santos, revelado através das satíricas críticas espalhadas pelos diversos veículos de comunicação.
Sabia que chegando aqui encontraria um bom texto relacionado ao assunto. Atual, imparcial e inteligente, a Astúcia de Ulisses nos proporciona um excelente espaço para discussões e aprendizado.
Parabéns Rezende por mais um excelente texto!
Abraços,
Antonio Dantas
Antonio
Grato pela visita. As portas estão sempre abertas.
abs
antonio paulo
Diógenes
O Barcelona voa. Não dá para o Santos.
abs
antonio