Tensões sociais: greves e impasses trabalhistas
O capitalismo não vive sem tensões. Focamos, muitas vezes, a violência das grandes guerras e nos descuidamos das armações cotidianas. A multiplicação dos lucros não é benefício que se estende para todos. A sociedade mostra que a desigualdade permanece, incomodando a maioria. Muitas relações mudaram. Regimes de disciplina receberam novas regras, mas a concentração de riqueza exige privilégios. Nada de socializá-los. Mesmo antes da modernidade, já havia lutas organizadas em buscar de redefinição política. Elas continuam, porque seus fundamentos têm eco na contemporaneidade. A pobreza não se foi com a globalização e se agudizou.
A preocupação dos governos é com o crescimento dos cálculos. Tudo vira números, quantidades anônimas, manipuladas. Não é uma prática, muito saudável, para quem afirma estimular a transparência. O mundo dominante alarga-se, com ajuda de tecnologias e espertezas nas propagandas. As relações de poder buscam salvaguardar interesses que não ajudam no aprofundamento da democracia. Falta diálogo entre o passado e o presente. Vale o imediato e as lições são desprezadas. O discurso competente termina substituindo as sabedorias das experiências. Não há trocas, porém consolidação de hierarquias.
Os entrelaçamentos das relações históricas renovam as reflexões e colocam suspeitas em perspectivas centralizadoras. Refazer caminhos também é importante. No Brasil, muitas opressões atuam, desde os tempos coloniais. Houve escravidão, preconceitos contra o trabalho manual e tantas outras coisas que não foram banidas de vez. Não adianta mascarar, pois a corda se quebra e a nudez dos desconfortos não é muda. A leitura do desenvolvimento, frequentemente, liga-se à economia. E as outras convivências que atravessam a sociedade ? Criam-se euforias passageiras, com o aumento do poder de consumo. Por que não uma leitura mais ampla, sem negar os méritos de certas iniciativas, porém atenta à abertura de outras trilhas?
No momento, a imprensa noticia choques trabalhistas em algumas obras estruturais. Suape encontra-se numa situação delicada. Surpresas, negociações, intraquilidades, acusações. Há sinais claros de que os descontroles persistem e provocam perdas. Os trabalhadores desconfiam, até mesmo, das falas dos seus representantes. Os alojamentos fervem. Muita gente, de lugares diferentes, e as empresas não conseguem firmar estratégias de acolhimento satisfatórias. Surgem as controvérsias e se retomam reivindicações que pareciam morrer nas gavetas dos armários. Há falhas e desacertos.Existe um desconhecimento histórico das lutas sociais no Brasil. Os livros não lhes dedicam páginas extensas. Isso é um ponto de dificuldade. Fabrica-se o mito da aceitação passiva e do sorriso fácil.
As greves operárias atuaram nas primeiras décadas da República, repercutindo nos centros urbanos. Os escravos não foram apáticos. Houve resistências e violência. O Brasil não é um paraíso de harmonias e de pessoas felizes com os produtos da Avon. Onde há questões sociais primárias não resolvidas, inquietações se avolumam. Se os rumos do futuro apontam para o aumento de empregos e oportunidades, tudo bem. Os salários e os direitos caminham com os ganhos gerais? Os impasses são inevitáveis. Há muita ausência de cuidado na administração das pendências. Repetir que a questão social é uma questão de polícia, reforça o ultrapassado. É preciso fôlego, com abertura política.
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Antonio, coincidentemente hoje quando voltava da universidade, escutei uma música muito bonita, do CD Arte em Movimento (do MST) que se chama “Companheiros de Guevara” (Ademar Bogo).(*)
Enquanto a escutava pensava, justamente, que “o passado precisa dialogar mais com o presente”, algumas lições não podem “ser desprezadas” e certas trilhas precisam ser reaprendidas/ressignificadas.
O que une os trabalhadores, hoje? Como reivindicam os seus direitos?
É preocupante o “desconhecimento histórico das lutas sociais no Brasil.” Assim como, a fabricação do “mito da aceitação passiva e do sorriso fácil.”
Como diz Rezende “É preciso fôlego, com abertura política”.
É preciso reavivar o ontem no hoje e cantar junto a outras vozes, em nossa marcha diária de tensões, as lutas e as rebeldias esquecidas.
Antonio me despeço (por hoje), fazendo mais um “brinde poético musical” aos que (igual a você) resistem, sem perder o vivido e o horizonte perseguido.
(*)“Se não houver o amanhã
brindaremos o ontem
E saberemos então
onde está o horizonte.
Aí cantaremos segredos
E todos os medos
serão alegrias, veremos,
que o passo só cansa
quando não alcança
sua rebeldia
E na sombra da verdade
estará a liberdade
que a gente queria
Então ouviremos da história
o grito de glória
da nossa utopia.
E quem ficou sem chegar
sem poder andar
estará presente
Grande será nosso espanto
ao ver o encanto
do bom comandante
chegando na hora certa
com a voz desperta
nossa rebeldia
companheiros de Guevara
trilhando a estrada
por um novo dia.”
(!!!)
Bjs
Flávia
Flávia
Quando a gente não olha o passado termina não validando experiências. Fica difícil, então, mudar.
bjs
antonio paulo