A Igreja Católica busca afirmações perdidas

A recente visita de Bento XVI a Espanha mostra a vontade de a Igreja Católica firmar posições. O mundo diversificou-se e as religiões encaminham estratégias diferentes. Não querem a negar força do convencimento, mas percebem que a vida é outra. Os valores e as tradições voam sem destino. A modernidade redefiniu as escolhas e alterou a produção de bens materiais. Deu um nó no pensamento, quebrando verdades seculares. O tempo da soberania dos dogmas não se segurou. Nem por isso, a salvação se ausentou dos discursos. O medo da morte não se fragilizou com as invenções tecnológicas. Tudo está em ebulição constante, não existem formas definitivas para curar todos os males do corpo e do coração. O risco é a dimensão maior das tragédias de cada dia.

As religiões acompanharam as viagens da história. As sociedades construíram reflexões para decifrar os mistérios. É difícil visualizar clareza nas coisas do universo. Se antes os deuses estavam em toda parte, depois se arquitetaram os monoteísmos. Aumentam a complexidade da cultura. Surgem possibilidades de fortalecer conhecimentos, não ficar dependente das astúcias da natureza. Mas as religiões também dialogam com a política. Nunca se distanciam das tramas do poder. O cristianismo foi revolucionário, porém terminou se integrando aos projetos de dominação, institucionalizando suas ações. Todos sabem da penetração da Igreja Católica no mundo medieval.

Os muçulmanos não vacilaram. Uniram suas crenças aos planos de formar um império. Conseguiram êxitos. Deixaram marcas no Ocidente que não desapareceram. Hoje, estão divididos. O Oriente Médio convive com conflitos. A riqueza do petróleo tumultua os caminhos da fé. Ninguém prevê como o fundamentalismo abandonará a violência e as táticas suicidas. A globalização traz influências, muda expectativas, provoca proximidades, mas não tem diminuído as tensões. Observe o que acontece na Palestina e no Afeganistão. Israel não sossega, sofre ataques, não se descuida de preparar-se militarmente e mergulha num cotidiano instável. O número de vítimas é crescente. Os judeus possuem fortes relações com sua religião que mantém esperanças, mas que, também, fermenta intrigas históricas .

O catolicismo se ressentiu da expansão da Reforma. Tentou refazer-se colaborando com a colonização da América, nas aventuras  de Espanha e Portugal. Foi presente de forma decisiva. Usou a catequese para iludir nativos, não se insurgiu contra a escravidão. Poucos sacerdotes colocaram-se contra as pressões dos europeus hegemônicos. A Igreja não queria perder suas ligas com o poder. Esquecia-se da igualdade que tanto inquietou os primeiros cristãos. As instituições terminam encantando-se com o conservadorismo. No século XX, os senhores do catolicismo simpatizaram com o franquismo e o salazarismo. Apoiaram ditaduras e governos corruptos. Procuraram silenciar os rebeldes.

Hoje, buscam espaço num mundo, envolvido por um pragmatismo cruel. A fé não morreu, nem a ciência reina isolada. No entanto, as práticas sociais, muitas vezes, não se articulam com os discursos. A Igreja Católica padece de contradições. Na Espanha, a pregação de Bento XVI contou com participação de milhões de pessoas, porém houve manifestações de protesto contra os gastos com sua comitiva.  Há incômodos visíveis. O sufoco financeiro é avassalador. Exige-se ação imediata do governo. Por onde anda mesmo a salvação? Flutua, sem moradia.

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